Candice Bergen é uma Monalisa pós-moderna. Aquela ameaça de sorriso construído pelo talento de Da Vinci, e passado para o metro do tempo como enigmático, é fichinha perto desse que a loira nos proporciona. Enigmático, lindo e claro como uma manhã de abril. A boca dessa moça parece estar sempre entre parênteses. E parêntese a gente sabe, envolve um contexto de muito valor.
Candice é multimídia. Modelo, jornalista, escritora e primeira mulher a apresentar o "Saturday night live", a saber: um programa televisivo de humor que já está no ar há quase 50 anos. Nas horas vagas, espalhou pedaços de coração até por Passo Fundo-RS. Namorou de Henry Kissinger a Louis Malle, com um pequeno estágio pelos pelegos do gaúcho Tarso de Castro, um dos fundadores do Pasquim.
Uma curiosidade mórbida rondou a vida dela em 1969. Foi morar com o namorado Terry Melcher, filho da Doris Day (cujo pai biológico nunca descobri) na Cielo Drive, 1050, em Beverly Hills uma mansão enorme, palco de um dos crimes mais hediondos da história de Hollywood. Tempos depois de terem alugado a mansão para Roman Polanski, sua lindíssima Sharon Tate acabou sendo trucidada pelo louco Charles Manson e seus fanáticos.
Detalhe: a bronca do Manson era com o Melcher e este era o alvo. Logo os assassinos erraram de mulher. Era para ter sido Candice.
Apesar de ser uma cidadã de múltiplos talentos, como atriz não chegou ao topo. Foi mais TV e menos cinema. Seu grande desempenho foi em "Ghandi", no papel da empoderada fotógrafa Margaret Bourke-White, das raras criaturas ocidentais a privar da intimidade do líder indiano.
Este é um filme fascinante, baseado na biografia de Mohandas Karamchand Gandhi (Mahatma é honorífico e significa alguém "de grande alma"), um modesto advogado pacifista que, com o poder da palavra, libertou um povo. É a vitória da boa-vontade; do desejo de paz e liberdade, contra as armas e a intolerância. Mostra que o poder da base, arregimentado, supera o poder da autoridade.
Um grande filme, com desempenho inesquecível de Ben Kingsley, oscarizado por isso.
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