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sábado, 12 de outubro de 2024

VELUDO AZUL


Isabella Fiorella Elettra Giovanna Rossellini, nome que ficaria bem em uma casa real, conhecida por nós, mais íntimos, como Isabella Rosselli. Em princípio não queria seguir a carreira dos pais, os gigantes Ingrid Bergman e Roberto Rosselli. Foi ser repórter durante um tempo, mas sua beleza a levou à Lancôme, para a qual serviu de rosto durante muitos anos, até cair quase por acaso no meio cinematográfico. Contracenou com a mãe, em 1976, depois casou com Martin Scorcese, meteu umas guampinhas nele com David Linch e a carreira estava pronta. Não por isso, claro, porém, junto com o pedigree, a beleza e algum talento... É o caso, pra cima, todo networking ajuda.

"Veludo Azul", do David Linch (aquele...), a meu juízo, é o melhor trabalho dela. O filme, de 1986, é um drama policial, intimista, surreal, meio freudiano, com a marca forte do seu diretor, que sempre deixa um besouro atrás da orelha do espectador (prestem a atenção nisso: orelha e besouro, eles são importantes no filme). A atenção fica presa do início lúdico, com uma fotografia ensolarada e de cores saturadas, ao final lúdico de mesmas cores. Entretanto, o que se passa no meio disso, entre sombras e luzes negras e vermelhas, são maquinações dignas do anjo caído.
Isabella é Dorothy, uma cantora de cabaré, aliciada por um bandido sádico (Denis Hopper). De gaiato entra o jovem Jeffrey (Kyle MacLachlan) que após um achado estranho no jardim, mergulha em um mundo inesperado, sedutor, criminalizado e doentio.
A trilha sonora é adequada a ambientação. Além da intimistas "Blue Velvet", que empresta o título ao filme, há outras muito bonitas, como "In Dreams", do Roy Orbison e "Love letters", de todos nós, que as escrevemos um dia.

PATCH ADAMS - O AMOR É CONTAGIOSO


 Passei um bom tempo da vida profissional tentando demonstrar que em negócios não se produzem amigos; que o distanciamento crítico é importante e no mais das vezes, decisivo. Porém, se amizades acontecerem, melhor ainda.

Pois o profissional Hunter Doherty "Patch" Adams, um médico americano que certamente foi treinado (e não quis aprender) sobre a importância de manter a distância "saudável" em relação aos pacientes, acabou revolucionando os tratamentos, estreitando as relações, levando carinho, amor e bom humor aos leitos, alguns terminais. Sentimentos que são adjuvantes preciosos às praticas e tratamentos médicos, segundo entendimento dele.
"Patch Adams - O amor é contagioso" não chega a ser um filme biográfico, nem extraordinário como obra, do qual o próprio enfocado não gostou, pela superficialidade. No entanto, é um filme lindo, sensível, estimulante e necessário, justamente nesta época em que mais temos ido aos consultórios.
E é uma homenagem ao ser humano que é o Dr. Adams, vivo e com apenas 76 anos. Robin Willians está magnífico no papel.
Em um primeiro momento, o Dr. Adams dizia antipatizar com o ator por ter se prestado ao papel, ganhado milhões e não ter doado nenhum centavo às suas instituições. Porém, foi reconhecer logo depois que nenhum outro ator poderia representá-lo melhor e reconheceu também o maravilhoso trabalho social que Robin apoiava.
Robin Willians era dependente químico, sofria de depressão e de uma doença degenerativa, somente descoberta após o seu suicídio. Foi um grande ator e também filantropo.
"Você prefere terminar a vida, com alegria, coisas legais e humor, ou continuar a desgraça que é morrer, na tristeza, na ruindade?" P.A

PLATOON


Há alguns anos conheci em Assis Chateaubriand-PR um cidadão, ex-pracinha da II Guerra, lotado em Monte Castello. Trouxe com ele um diário, totalmente escrito em versos, do dia em que embarcaram no Porto de Santos ao dia da volta, em 1945.

São relatos fantásticos, com rimas enriquecidas pelos sentimentos múltiplos, controversos e apenas imagináveis do front, que moviam o lápis. É um material riquíssimo que deveria estar em um museu.
Pois sobre um desses matungos de São João Evangelista, justamente o que seria mais fácil de domar, a guerra, mas cujo queixo nós mesmos endurecemos, fui rever "Platoon". Cruel, bárbaro, abusivo e desumano, porém, creio que um retrato real do que acontece na linha de frente para onde só vão os inocentes, e que por vezes, transtornados pelo meio, acabam também inseridos na barbárie, sendo parte dela.
Uma história escrita, produzida e dirigida por quem viveu essa que foi uma das maiores derrotas americanas nos campos de batalha. No caso, na selva. Oliver Stone esteve do Vietnam e voltou condecorado, e não sei se a narrativa do filme, feita pelo soldado Chris Taylor não é o álter falando.
O erro estratégico americano foi de cabo-de-esquadra. Comparável como apanhar de bêbado. Foram lutar contra um inimigo teoricamente frágil, a maioria camponeses, porém, na selva deles, lugar que conheciam com a palma da mão. Um descuido trágico movido pela soberba de grande nação, que vitimou milhares de jovens despreparados, e deixou uma legião de outros tantos com traumas irreversíveis. Só bastava ter lido Sun Tzu.
Oliver Stone fez o diabo na produção desse filme, submetendo os atores aos rigores da selva filipina, onde foi rodado, com duas performances inesquecíveis: Tom Berenger (sgt Barnes) e Willian Dafoe (sgt Elias). A mensagem maniqueísta dos personagens talvez tenha sido para contrariar Sarte: o inferno somos nós.
A imagem da morte do sargento Elias, que ilustra o cartaz, é eterna. Saibam que resta muita tristeza ao final.

O OUTRO LADO DA MEIA NOITE


Li muito Sidney Sheldon. Tanto quanto li Fernando Sabino e Mario Prata, e menos que Carlos Zéfiro.

No final dos anos 70, quando voltava de uma viagem, comprei o livro "O outro Lado da Meia-Noite". Li num tapa, como se faz com qualquer obra do Sheldon. No final de semana seguinte fui surpreendido pelo filme, que passava no cinema Guarany ou Imperial, não me lembro bem, em Porto Alegre. Assisti ao filme e reli o livro. Nunca é a mesma coisa, porque no livro, a gente vai folheando o roteiro original, dirigindo e contracenando, e só repete as cenas não para corrigi-las, mas para degustá-las. Ninguém faz um roteiro adaptado melhor do que o nosso cérebro. O livro e o filme são ótimos. Uma pequena aula de sedução e manipulação, e do quanto sentimentos como mágoa e vingança doem mais em quem os alimenta.

O centro da narrativa é a vida de duas mulheres de atitudes e histórias de vida totalmente opostos. Noelle Page (Marie‑France Pisier) e Catherine Douglas (Suzan Sarandon), lincadas por uma paixão comum: o piloto americano Larry Douglas (John Beck), galã de aeroporto, que conhece Nicole, se apaixona protocolarmente, promete o de praxe, mete uma bola nas costas dela, e se casa com Catherine.

Nicole já fora doloridamente marcada pela traição do próprio pai, que a havia "vendido" ainda adolescente a um rico empresário, do qual conseguira escapar. O desejo de vingança contra o sexo frágil (que todos sabem qual é), portanto, estava realimentado. E a coisa se vai aos extremos quando Noelle provoca um aborto cruel, parte para uma escalada sem limites em busca dos seus objetivos, usando de seus maravilhosos atributos físicos e capacidade de sedução, e se torna amante de um rico e poderoso armador grego (não tem como não lembrar de Onassis), mais vingativo e cruel do que ela.

O filme é de 1977. Em 1993 fizeram uma sequência, tanto do livro quanto do filme, chamado "Memorias da meia-noite" traduzido em filme como "Lembranças da meia-noite", porém, ambos ruins. Sidney Sheldon deve ter se arrependido de não ter feito um ou dois capítulos a mais no primeiro livro, o que teria resolveria muito bem a questão. Acaba que as tais sequências, em 10 minutos esclareceram o que teria ficado subentendido.

Bueno. "O outro lado da meia-noite" vale muito a pena ler e assistir. É uma obra forte, dramática e marcante, desde o título. Quanto a sequência, lendo a sinopse já está de bom tamanho.

UMA LINDA MULHER




O filme lançou Julia Roberts na constelação hollywoodiana, em 1990. Já Richard Gere, que nos enchia o saco desde 1975, mas invadiu de vez a nossa pista em 1980, com "Gigolô americano", teve que ser convencido a contracenar com a desconhecida.

O filme é uma comédia romântica levíssima, apaixonante, com uma trilha sonora à altura. O empresário Edward Lewis (Gere), de Nova Iorque, vai a Los Angeles tratar de negócios. Convida a namorada para acompanhá-lo, mas ao invés de ir, ela lhe manda um pé na bunda.
Em Los Angeles após finda uma das reuniões programadas, sai com o carro do sócio para dar um bordejo e acaba na zona. Lá encontra Vivian (Roberts) , uma profissional do sexo que, vendo a dificuldade do moço em dirigir o carro, toma o volante do Lotus Espirit. (O curioso é que Julia, então com 21 anos, ainda não tinha carteira). Edward se encanta com a linda, carismática e desenvolta prostituta. Como tinha levado um "pé", propõe contratar os serviços de Vivian para o papel da namorada, naquele final de semana, condição que não foi aceita, mas que seria renegociada. Não foi preciso recorrer a Nostradamus ou à Mãe Diná, para descobrir que o negócio sucumbiria ao amor. E acabaria apaixonando o mundo pelo casal.
A leveza resultante da obra tem muito a ver com a incrível química entre os dois protagonistas. O que era para ser um drama, acabou em comédia e selou para sempre a amizade entre Gere e Roberts, muitas vezes confundida com paixão. Além da adequação no gênero, o título também foi trocado no roteiro adaptado. Deveria ter sido "Três mil dólares", que era o cachê da garota de programa, pelo final de semana.
Há cenas memoráveis, como o choro de Vivian assistindo a ópera "La traviata" (pela identificação); a declaração de amor dela cochichada, quando pensa que ele está dormindo, um dente realmente quebrado de Edward na troca de porrada com o sócio, e a cena final, quando o mocinho, que tinha medo de altura, sai do teto da limusine e sob o edifício pela escada de incêndio.
Por fim, Roy Orbison quebra tudo com a sua "Oh, Pretty Woman". Uma canção de 1964 e já premiadíssima à época do filme.



HER





A Alexa, por vezes me dá a impressão que é mais um símbolo machista mal disfarçado. Aprisionaram uma mulher, cujas habilidades são programadas unicamente para nos servir, e o faz com competência e de acordo com o nosso agrado. Não sei como as gurias do feminismo ainda não contragolpearam com um "Jarbas" ou "Charles". "Jair" já tem, mas é a pilha, e só para tarefas leves.

Alexa é o alter ego das obsoletas secretárias eletrônicas e um passo além da "Siri" e da "Cortana". (Reajam, gurias)
Penso nisso desde que revi "Her", com o desempenho monumental do Joaquin Phoenix. Joaquin já tinha "destruído" em "Johnny & June", que relata sobre a conturbada vida do homem de preto Johnny Cash. Em "Her", faz o papel de Theodore, divorciado, solitário e carente que, possuído por sérias patologias espirituais, desenvolve uma profunda relação de afeto com uma assistente virtual, a "Samantha", de voz linda e sensual, como linda e sensual é a dona da voz: Scarlett Johansson que, por óbvio, Theodore só imagina. O filme, sob a batuta refinada do prod0tor e roteirista Adam Spiegel (Spike Jonze) teve cinco indicações ao Oscar. Ganhou um.
Theodore e Samantha viveram felizes, mas só por um tempo. O filme mostra que pessoas podem evoluir, mas a tecnologia o faz muito mais rapidamente, em especial, caso possa dispor de sua própria inteligência artificial.
Por fim, foi forte demais para o Theo aceitar que a nossa Sam também estivesse apaixonada por outras 641 pessoas. Afinal, ela era um sistema operacional. É um filme que mistura temas como drama, ficção científica, com notas de humor. Tudo com bom gosto e em dosagens corretas. E atenção para os sutis toques filosóficos.
Karen O, que interpreta a música "The moon song", é uma coreana/americana com uma vozinha de travesseiro. Miada, mas apaixonante.

A INFORMANTE


Kathryn Bolkovac é uma defensora dos direitos humanos, ex-investigadora da polícia americana e ex-monitora da Força-Tarefa das Nações Unidas na Bósnia e Herzegovina. Ela ganhou notoriedade quando processou seus empregadores por demissão sem justa causa, após infrutíferas tentativas de expor o tráfico sexual na região, com a participação de oficiais.

Bolkovac havia sido contratada pela DynCorp Aerospace, uma empreiteira militar privada americana (hoje Amentum), que tinha um contrato de US$ 15 milhões relacionado à ONU para recrutar e treinar policiais.
Em julho de 2001, Bolkovac entrou com uma ação na Grã-Bretanha contra a DynCorp. Em 2 de agosto de 2002, o tribunal decidiu por unanimidade em seu favor. Ela relatou que colegas oficiais cometiam abusos contra mulheres, estuprando meninas e participando de tráfico sexual. Os envolvidos nativos foram processados, porém, os contratados da ONU, pela imunidade diplomática saíram livres. Alguns apenas foram forçados a renunciar a seus cargos e deixar o país.
O filme "A informante", com a ótima Rachel Weisz no papel de Kathryn, é uma sinopse da vida dessa mulher fantástica, especificamente sobre suas ações na Bósnia. Aos 61 anos, se mantém firme e ativa pela causa feminina como advogada, palestrante e conselheira. Em 2015 foi indicada ao Prêmio Nobel da paz.
Seu segundo marido, Jan, com quem casou em 1999, é um policial do governo holandês, que conheceu e foi seu parceiro nos horrores da Bósnia. Vivem entre Lincoln (EUA) e Amsterdã.

LOVE STORY





"Love means never having to say you're sorry” (Amar significa jamais ter que pedir perdão).

Essa frase por si já traz uma carga densa de emoção. Que atire a primeira sílaba quem nunca tenha se socorrido dela ou similares, lá pelos anos 70, quando algum desconforto com notas de culpa, estivesse flutuando entre duas almas.
Oliver Barret IV (Ryan O'Neal) diz isso para seu pai, Oliver Barret III (Ray Milland) que arrependido de não ter apoiado o filho, corre para desculpar-se e ampará-lo no leito de morte da esposa Jennifer (Ali MacGrow).
Oliver e Jennifer, ele um aristocrata, ela uma plebeia, são universitários que se apaixonam e, para a contrariedade dos pais dele, se casam. Oliver é deserdado e o casal vai viver por sua própria conta. Até descobrirem que Jenny, que não conseguia engravidar, tinha uma doença terminal.
É um filme bem ao gosto da "juventude paz e amor" dos anos 70; um manual bem elaborado de clichê choroso, mas, de todos as pieguices já filmadas é, sem dúvidas, a melhor. Também uma das maiores bilheterias da história de Hollywood, tendo rendido 7 estatuetas.
Filmes de amor trágico sempre venderam bem, são quase sempre iguais, mas continuam rendendo mares de água salgada, desde que Shakespeare deu guarida ao ranço da família Capuleto. Recentemente vimos isso em "A culpa é das estrelas" e "Como eu era antes do você", só por exemplo.
E a trilha sonora oscarizada, que ajuda muito na dramaticidade do filme pela beleza melancólica, foi realizada pelo gigantesco Francis Lai, o mesmo de "Um homem, uma mulher" e mais de 50 filmes.

UMA RAZÃO PARA VENCER



 



A gente sabe desde o início o que vai acontecer no fim. É tudo muito previsível, ou melhor, é uma já história contada por ser real. Mas, como passamos o tempo inteiro armazenando emoção para despejar no momento óbvio, tudo acaba ficando justo e contemplado.

É uma história de superação dentro de uma atividade que exige muita concentração, técnica, agilidade e precisão. No entanto, como é esporte coletivo, conta muito o espírito de equipe, motivação, determinação e foco. Com esses ingredientes, às vezes David derruba Golias.
O filme é baseado na história real vivida pela equipe de voleibol Iowa City West High School, após a morte de Caroline Found, a saber, uma menina extremamente carismática, líder da equipe, em um acidente, em 2011, aos 17 anos, antes do início da grande competição estadual. Mas do caos nascem estrelas, e o infortúnio acabou inspirando outras jogadoras, em especial sua melhor amiga Kelley, até então inexpressiva. Fizeram do trágico evento uma grande razão para vencer. Jogaram por ela, sob o comando da rigorosa treinadora, representada por Helen Hunt. A curiosidade é que a verdadeira treinadora aparece na torcida, vibrando na final, bem como o pai de Caroline, que é interpretado por Willian Hurt, falecido no mês passado.
Neil Diamond não escreveu "Sweet Caroline" para nenhuma Caroline. A homenageada era Marsha, sua mulher à época (1969), mas cadê a métrica? Então, meio que por acaso, achou a mimosa Caroline Kennedy, filha do John, que tinha 11 anos. Bingo! Muitos anos depois, Neil teve a oportunidade de cantar essa música para Caroline, na festa dos 50 anos dela.
O final do filme é de arrepiar.
Um carinho às minhas queridas amigas do vôlei, que dividem conosco os encontros anuais do esporte, cujas, quero abraçar quando setembro vier.


PSICOSE



De 1960, é um marco para os thrillers do seu gênero. Investe na fronteira frágil que divide o suspense e o terror, com muita sutileza. É um clássico com o carimbo de Hitchcock, que o assina participando como sempre em uma tomada, desta vez na figura de uma cowboy enchapelado.

Norman Bates é o personagem de Anthony Perkins. Um maníaco depressivo, aparentemente inofensivo, que gerencia um motel falido da família. Janet Leigh é Marion Crane que, para casar e viver feliz para sempre com seu noivo cretino, dá um desfalque no patrão, foge e é apanhada por uma tempestade no meio do caminho. Duas tempestades, sendo que a segunda e definitiva virou vinheta para qualquer referência que se faça a cenas de suspense: a facada da mãe do Bates, ao som de uma quantidade enorme de grilos que compunham a trilha sonora. Mãe que, na verdade a gente sabe muito bem quem é. Fruto da fixação macabra do filho pela velha, demonstrada em flashes na cena final, e que há muito já estava devidamente empalhada.
O filme agrega no personagem principal traumas, complexos e outras patologias mimosas. É baseado na história real de Ed Gein, o "Assassino de Wisconsin", a saber, um serial killer dos anos 50, que fazia utensílios domésticos com a pele de vítimas. Uma forma não muito convencional de guardar uma lembrancinha dos seus casos.
E Antony Perkins foi o Bates que desde criança fora. Teve uma vida tão atribulada, tão cheia de complexos, negações e fantasmas quantas seu personagem expõe. Uma vida que se finou aos 60 anos, golpeada pela AIDS. Foi tão autêntico; tão real na trama que lhe rendeu o estrelato.
Um clássico.

INSTINTO SELVAGEM



Um gato angorá, desses bem felpudos, ao atravessar os trilhos teve seu rabo decepado pelo trem. Chocado com a perda, voltou para apanhar o que perdera, e teve a cabeça decepada pelo vagão. Moral da história: por um bom rabo se perde a cabeça.

Pois então... O detetive Nick (Douglas), ao investigar uma suspeita linda, extremamente manipuladora e transpirando a lascívia (Stone), brincou nos trilhos, acabou misturando as estações e se foi flertar com o abismo. Perdeu a cabeça e viu o quanto também pode ser sublime a face da morte.
"Instinto Selvagem", de 1992 é um baita filme, para quem gosta do gênero., embora olhado de viés pela crítica. Foi o salto na carreira de Sharon Stone, que a bem da verdade não se confirmou como uma grande atriz, entretanto... cruza as pernas como ninguém. E foi um divisor de águas nas cenas quase explícitas de sexo em "filmes sociais". Antes de Stone, que Michel Douglas achava inexpressiva, foram cotadas Kim Basinger, Julia Roberts, Greta Scacchi, Meg Ryan, Michelle Pfeiffer, Geena Davis, Kathleen Turner, Ellen Barkin e Mariel Hemingway e Demi Moore, que rejeitaram porque aquilo não era papel para moça de família.
O filme trata de uma escritora que gosta de fazer laboratórios arriscados e viver as páginas que escreve, ao limite. E já desde do início mostra a que veio, ou seja, um casal experimentando algumas fantasias que vão de galopadas frenéticas, mãos amarradas, orgasmos temperados com esguicho de sangue pela jugular, provocado por uma penetração inesperada: um picador de gelo. Um crime que passa a ser investigado pelo detetive metido a esperto, que se apaixona e não desvenda nada. Aliás, investigação como um todo é de araque. Ora, teste de DNA, que já era um recurso disponível, nem pensar? O autor do romance se desculpou pela falha, e o roteirista, que poderia corrigir, também chupou bala.
Bueno, de qualquer forma é um filme bem feito, intenso e cativante, do início ao fim. Teve grande bilheteria e até tentaram dar uma sequência, anos depois, que foi um fracasso total.

VÍTIMAS DE UMA PAIXÃO



É o título brasileiro para "Sea of love" (Mar de amor). Tanto o título original como o nosso ficaria bem como letra de tango, sendo que o nosso espirra sangue dos pulsos.

Foi gravado em um período excepcional na carreira de Al Pacino. Andava por baixo, em função do fracasso de seu filme anterior, e foi uma bela oportunidade para mostrar com quem estavam lidando. O velho Al dá um banho como o detetive atormentado Frank Keller.
É um policial de Nova York em crise, que não consegue elaborar o pé na bunda que recebe da mulher e vai procurar ombro onde só tem álcool. Pior: a mulher o largou por um parceiro de departamento!
Quando é indicado para investigar um caso, descobre que há outro crime igual sendo investigado por outra delegacia, que tem em comum o fato de ambos estarem ligados ao Tinder da época, ou seja, alguém marcava encontros com a morte, pelos aplicativos primitivos de encontros de então (1989).
Frank se inscreve no aplicativo, dá de cara com uma loiraça charmosíssima, sedutora e cheia de mistérios (Ellen Barkin), que dá vida a senhorita Helen Cruger. Cruger e não Krueger, como o nosso querido Freddy. Mas não relaxem. Neste caso, os espinhos da rosa estavam envenenados.
Bueno... Vai lá ver. São quase duas horas, mas o velho Al e a Ellen fazem valer a pena.
Obs.: Sempre me choca a imagem da Ellen. É muito parecida com uma amiga muito querida que partiu cedo demais para a paz que passou a vida inteira merecendo.

PERDIDOS NA NOITE


Midnight cowboy, 1969, é um filme para ser assistido atentamente e desarmado de sinopses. Ambienta-se em uma época de grandes mudanças comportamentais, ao som de uma trilha sonora, parte do que melhor se produziu musicalmente, naqueles combos que misturavam rock, soul e country americano.

Talvez seus criadores quisessem ter feito uma aventura bem-humorada, porém, a parceria do ingênuo Joe Buck (Jon Voight) com o rengo safado Enrico Rizzo (Dustin Hoffmann), transformada em um profunda relação fraternal, o tenha tornado também um drama de extrema sensibilidade.
"Perdidos..." Não é só uma história meio drama meio comédia, tipo vida de palhaço, é uma lição. Ainda hoje, mesmo que tenha se passado mais de 50 anos do seu lançamento, uma lição muito válida para que a gente possa aprender a dimensionar os sonhos. Saber que, em regra, eles devem ser escalonados, e que deixem que a cabeça viaje, sem arrancar os pés do chão.
Buck vai tentar a vida como michê em Nova Iorque, baseado na sua enorme capacidade de sedução, segundo ele mesmo, habilidade essa testada nos tempos de galã arrabaldino. Jon Voight, que perdeu a identidade quando Angelina Jolie mostrou os lábios (passou unicamente a ser pai dela) dá uma aula de interpretação; e Dustin Hoffmann, na sua normalidade genial.
Dá tudo errado, o final é deprimente. Melancolias à parte, o filme é maravilhoso. Tanto que arrebanhou três Oscar's e mais algumas indicações.
"
Everybody's Talkin é da lavra de Fred Neil, mas ganhou notoriedade com o filme e na voz do ótimo Harry Nilsson.

𝐀𝐋É𝐌 𝐃𝐀 𝐄𝐓𝐄𝐑𝐍𝐈𝐃𝐀𝐃𝐄



Nesse filme, Audrey Hepburn está na condição em que viveu: entre os anjos, sendo protagonista entre eles. Há muito da história da vida pessoal dela para ser contado, que não cabe em resumos de rede. Foi uma grande mulher. Em "Além da eternidade", seu último trabalho para o cinema, ela apenas aparece para nos fazer acreditar em anjos e ajudar a consagrar Richard Dreyfuss nas mãos de Spielberg.
Pete (Dreyfuss) é um piloto da brigada anti-incêndio, com a coragem e a valentia dos irresponsáveis, que ao morrer, é transformado em anjo da guarda pelo anjo Audrey, justamente para proteger Ted, seu sucessor no grupamento. Mas o destino de Ted, além do avião, foi de pilotar também o coração de sua inconsolável Dorinha. Pobre Pete!
No cenário, os maravilhosos "The Platters", que parece terem se formado para cantar em velório. Quem não lembra de "Unchained Melody" em "Ghost", quando enfeitam fantasma de Sam Wheat (Patrick Swayze)? Pois em "Além da eternidade" eles sublimam emprestando seu talento para produzir olhos úmidos no réquiem de Pete, com a trilha espetacular "Smoke Gets In Your Eyes". Fumaça nos olhos... Tudo ver.
Filme de 1989, na categoria dos imperdíveis


OS GIRASSOIS DA RÚSSIA

 




"Não acredite em nada do que você ouve e apenas na metade do que você vê" - Edgar Allan Poe, poema "O corvo".
Giovanna seguiu à risca. Não acreditou nas informações oficiais e se foi à Rússia em busca do marido Antonio, desaparecido desde o fim da segunda guerra. E achou! A questão é: sabe aquela máxima que diz que às vezes é melhor amar uma lembrança e, se for o caso, até viuvar por ela? Pois então...
"Os girassóis da Rússia", de 1970, é um romance lindo, suave, com imagens maravilhosa da então Cortina de ferro pouco conhecida no ocidente, com seus campos pintados de verde e amarelo. Soma-se a isso uma trilha sonora que, só de ouvir, dá vontade de passar o inverno na Sibéria.
Sophia Loren é Giovanna, Marcello Mastroianni é seu marido Antonio, o desaparecido que, por gratidão à sua salvadora deixou que a fila andasse, e Ludmila Savelyeva, a salvadora, era a senha nº 1 da fila. Esta, uma russinha linda que já tinha brilhado em "Guerra e paz" anos antes, e em "Girassóis...", consegue a façanha de furar os olhos da Sophia.
O filme ainda tem duas assinaturas de peso: Henry Mancini na trilha e Vittório De Sica na direção. Mas atenção: se você gosta de Pablo Vittar, Anitta ou MCqualkerkoisinha não ouça.

Tenho feito postagens sobre o tema "Rússia", porque sei, ou desconfio, ou tenho a esperança de que ela seja bem mais do que Putin e os filhos do Putin que pisoteiam os girassóis e empestam as neves.