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sábado, 12 de outubro de 2024

À PROCURA DE MR GOODBAR


O olhar de Diane Keaton é lindo, múltiplo e intrigante. Marca registrada de um rosto de beleza simples e harmônica, que viaja do cômico ao dramático em um piscar. É daqueles rostos que sorriem por inteiro; olhos que se espantam convictamente. Nunca a perdi de vista.

"À procura de Mr. Goodbar", de 1977, é um filme que vi em VHS, trinta anos atrás e me deixou na boca um gosto amargo de fel, conforme a sentença Gonzaguiana. É uma história real. Trata-se da vida e morte da professora Roseann Quinn, que rendeu um livro e depois o filme homônimo. Roseann, personagem de Diane, sofria de profundas patologias espirituais; traumas mal resolvidos, sonhos incompatíveis com a ambientação. Idealizava um homem perfeito, com um título ao invés de um nome, mr. Goodbar. /Entretanto, depois dos primeiros desencontros com a vida e fantasias frustradas, adotou uma vida dupla, e resolve buscar conforto no lado oposto, através de relações casuais com a ralé, encontradas aleatoriamente em bares, nível boca do lixo. E como estação de passagem para a última viagem, vicia-se em álcool e drogas.
Richard Gere participa dessas aventuras, fazendo aquecimento e laboratório para três anos depois vir a ser "O gigolô americano". Jovenzinho ainda, como Tom Berenger, este que coloca o carimbo de sangue no passaporte da tragédia.
A trilha sonora não poderia ser diferente: dancing disc, dos anos 70, o que torna o ambiente tão ambíguo quanto a vida da professorinha. Você não sabe se dança com Donna Summer e Diana Ross ou morre de pena dela.
É um ótimo filme, mas doente.

𝐉𝐔𝐋𝐈𝐄𝐓𝐀

 


Há quem goste de Almodovar e há quem desgoste, mas nada dele passa despercebido. Nem ele. É um diretor de extremo capricho, que parece viver fundo seus temas, cuidados na estética e em especial a obsessão pelo protagonismo feminino. Sempre há mulheres inspiradoras, fortes e frágeis.
Assisti "Julieta", por ele, mas muito mais pela belíssima e talentosa Adriana Ugarte. Não chega a ser um grande filme, ao menos na minha ótica amadora. No entanto, prende a atenção do princípio ao fim.
Conta a história de uma mãe, abandonada pela filha, em seu momento crítico de reconstrução, após ter perdido o marido. A mãe, Ugarte na fase mais jovem, não cansa de procurar pela filha. Ou melhor, nas páginas tantas de seu desatino procurante ela cansa, encontra-se e vai viver sua vida na fase madura (sai Ugarte entra Emma Suárez), com um novo amor. Porém, um encontro inesperado faz com que todo aquele tempo gasto em busca da filha retorne, e ela, Julieta, larga tudo e volta à estaca zero e ao ponto de partida de suas buscas.
Há um detalhe interessante: consta que Almodovar tenha proibido choro dos protagonistas, embora cenas sensíveis. Cobrou, no entanto, dor e sofrimento, o que o elenco entrega com competência.
Ao fim, a gente acha que ela encontra a filha, nunca saberemos, uma vez que Almodovar, sendo Almodovar, nos coloca para trabalhar no nosso final preferido.

O FUNDO DO MAR



"No começo eu era sempre escalada como a namorada. Foi um longo tempo antes de eu começar a fazer personagens que eram pessoas".

Óbvio. Se algum mortal lúcido e de bom gosto fosse pensar em uma namorada, Jacqueline Bisset obrigatoriamente haveria de estar na comissão de frente. Ora... Então ela queria ser apenas "uma pessoa"?
Observem, por exemplo, o olhar dessa moça. Celestial, o que não significa que não dialogue também com o anjo caído. Encara-la deve ser algo como tomar sorvete na rua no verão de Uruguaiana.
Jacq nunca casou e também não tivemos filhos, apesar do rastro sangrento de corações despedaçados que deixou pelo caminho. Mesmo perto dos 80 aninhos dá um bom caldo. Continua linda, charmosa, sempre seletiva, tanto para filmar como namorar. E rica, rica, rica de marré deci. Milionária, mercê daquilo que, segundo ela, tem de melhor: a cabeça. Ora...
Há bons filmes para ver com ela, onde podemos lavar os nossos olhos, como "A noite americana", "Aeroporto", "Cassino Royale" e... "O fundo do mar".
Em "O fundo do mar", romance do mesma escritor que levou às telas o best "Tubarão", ela está mortal. A costa das Bermudas, lugar onde se passa a trama, nunca mais foi a mesma depois de 1977. As criaturas sinistras das profundezas que costumavam fazer desaparecer aviões e navios por ali, estão para todo o sempre vulcanizadas, tentando compreender a magia de uma camiseta molhada, fato que levou o produtor do filme Peter Guber a dizer: "Aquela camiseta me fez um homem rico" . É um filme de aventura, ação, suspense, tendo sido rodado 30% embaixo d'água.
Os tons de azul esverdeado da obra se confundem entre o céu e o mar convencionais, e o céu e o mar que a mocinha carrega entre os cílios.
Porque hoje é sábado vou rever, abraçado em um negrão chileno de sobrenome francês, da família Sauvignon, ou Merlot ou Carmenérè... Ou todos.

"𝐎𝐏𝐄𝐑𝐀ÇÃ𝐎 𝐑𝐄𝐃 𝐒𝐏𝐀𝐑𝐑𝐎𝐖"


Quem gosta da temática e tiver um olhar descompromissado de aspectos críticos pode gostar desse filme.

Como regra, a espionagem romântica, aquela que consagrou sir. Sean Connery e seu 007, que para nós, prepotentes ocidentais, desequilibrou a balança maniqueísta entre americanos e russos. O tema esgotou-se com o fim da guerra fria e a derrubada do Muro de Berlin.
O filme requenta um pouco o assunto. Especula sobre uma tal escola de espiões russos, para onde vai Domenika (Jennifer) a fim de servir às chantagens de um tiozinho safado, e depois de ver sua carreira como solista do Bolshoi ter um trágico fim. Escola que mostra uma única matéria curricular, a sedução, e que aliás nem é explorada na protagonista (cá pra nós: Je precisa de um sofisma desses?).
Um olhar um pouco mais aprofundado vai encontrar buracos e inconsistências na história, e tropeços de roteiro, mas não estou aqui para explorar esses aspectos porque, afinal, não sou do ramo e o filme prende a atenção do início ao fim, portanto, cumpre a sua função de entretenimento.
"...Sparrow" é um passar de olhos americano pelas intimidades do Kremlin e suas circunstâncias, onde a mocinha, desempenhando a malvadinha do bem, faz de Bobota os parceiros do Putin. E aquele esperado herói americano, supostamente colocado no filme para salvar a mocinha, acaba no limbo, e é totalmente desnecessário. Charlotte Rampling reaparece, e em uma coadjuvância que homenageia sua carreira: é professora da escola de sedução. Bingo!
Caso você não esteja procurando um super-clássico, assista; O filme é legal e, deturpando um pouco a frase do Rick Blane "sempre haverá Jennifer Lawrence". Não é o melhor dela, mas aquele olhar de absinto congelado é inigualável.

ÍNTIMO E PESSOAL



É um filme de 1996, baseado na biografia "Golden Girl", de Alana Nash, sobre a vida da jornalista Jessica Savith, morta aos 36 anos em um acidente automobilístico, no auge da carreira. Jessica estava alcoolizada.

O drama romântico conta a história da jovem Sally Atwate (Michelle Pfeiffer) que mora em uma cidadezinha interiorana e sonha em ser jornalista famosa. No inicio da escalada encontra Warren Justice (Robert Redford), um âncora, jornalista experiente e famoso, com quem, além do apoio e suporte na carreira, vive um grande amor. O filme deixa varias lições de luta, determinação, resiliência, e uma lição generosa de amor, com final dramático. Duas frases definem a carreira dos protagonistas:
“o que nós dos noticiários não podemos nos esquecer é que valemos pelas histórias que contamos”. Warren
“Eu só estou aqui para contar uma história”. Sally, depois de violar um o script.
Redford tem excelente performance. Já aquela que "mesmo em face de maior encanto, dela se encante mais meu pensamento", nada a declarar. Michelle não precisa representar, basta aparecer na tela que o meu Oscar está garantido.
"Because You Loved Me" é uma linda música, composta por Diane Warren, especialmente para o filme e gravada por Céline Dion e que ganhou o Oscar de canção original.

O PAGAMENTO FINAL


"Carlito's Way" e "After hours", obras de Edwin Torres, serviram de inspiração para este filme, dirigido pelo grande, normalmente trágico e "Hitchcockiano" Brian de Palma.

O título em português poderia ser vários, mas ok para "O pagamento final", que é um romance criminal contado em flashback, em uma espécie de conformidade com o Juízo final. A extrema-unção ungida com sangue.
Tem algumas reflexões importantes, como até onde pode ir a lealdade entre pares, quando a vida está em risco, ou quando valores são trocados por preços. Ou imaginar o quanto e o que poderá caber no longa metragem que se passará no lapso miserável de tempo, depois da prorrogação, quando for cobrado o último pênalti.
Para o meu gosto, o filme é espetacular, com aulas de intepretação de Al Pacino e Sean Penn. Um mafioso arrependido, disposto a mudar de vida, mas perseguido pela estirpe, e um advogado de porta de cadeia, que vai se corrompendo a medida em que vê passar diante dele a riqueza, mesmo mal havida. E no meio de tudo isso, uma linda e sensível história de amor. Mas ao final, me lembrei do que falava vô Atahualpa, veterano de guerras civis: "não se deixa inimigo vivo".
E a trilha sonora, bacudo? Um passeio nos anos 70, entre o que havia de melhor por lá. Destaco a discotequeira "That's Way" (KC) e "You are so beautifull' (Preston).

ADVOGADO DO DIABO


 Antes de qualquer julgamento, é preciso dar-se conta de que "Advogado do diabo" é uma metáfora. Uma reflexão sobre se vale a pena vencer a qualquer custo; ou até onde se pode investir nos fins, a despeito dos meios; ou deixar que a "virtude" preferida do primo Lúcifer, a vaidade, segundo o próprio, seja a nossa bússola.

O obsceno anjo caído, muito bem representado por Al Pacino, traz várias mensagens, não só para os operadores do direito que atuam do lado de cá do balcão, foco da trama.
"Advogado do diabo" é um bom filme, mas atenção às sutilezas do enredo, afinal, "o diabo mora nos detalhes", a gente sabe disso mais por velho que por diabo.. Sem isso, poderá passar por um filmezinho de terror de quinta categoria, ou uma paródia jurídica de sexta. Prestando a devida atenção, todos os efeitos alegóricos passam a fazer sentido. Como a brilhatura especial da fala, quase um monólogo, magnífica no final, quando papai belzebu se declara ao filho, e à sutileza finíssima dos cabelos/penteado da meio irmã, na hora da sedução final e tentativa de preservação da espécie.. Pacino enche as medidas. E o que também enche as medidas, as minhas medidas são Connie Nielsen e Charlize Theron (ambas são de fazer um acordo o primo). Completa o time titular, o jovem Keanu Reeves, que tem a tarefa ingrata de dialogar entre os lençóis com as duas beldades. O pobre! .
Apesar de algumas cenas medianamente aterrorizantes, não é uma trama de terror. Tudo não passa de um lapso de tempo, onde o julgamento maior não está no martelo do juiz, mas na consciência.
A trilha sonora vai de Frank Sinatra a Rolling Stones, mas não é o melhor deles.

𝗠𝗘𝗜𝗔 𝗡𝗢𝗜𝗧𝗘 𝗘𝗠 𝗣𝗔𝗥𝗜𝗦



 (A apreciação deste filme exige um pouco de viagem nas artes e na literatura, a fim de contextualizar-se)
Não foram poucas as vezes em que "viajei" pelas ruas de Porto Alegre, como "poeira ou folha levada, no vento da madrugada, sendo um pouco do nada... Invisível, delicioso..." (*) Como nos velhos tempos. Especialmente pela Cidade Baixa, Cristóvão ou Protásio Alves, com pit stop no "Água na Boca" ou "Le Club". E com uma reconfortante sopinha na "Tia Dulce" no final de tudo. Saudosismo de quem já não cozinha na primeira.
Já não seria tão normal para um jovem de vida saudável, estabilizado e amando, como Gil Pender (Owen Wilson, sendo Woody Allen), escritor, roteirista e apaixonado por literatura d'antanho, viver com essas coisas meio Neymar (saudade do que não vivemos) na cabeça.
Pois Gil vai a Paris, de férias com a noiva e o sogro, e lá pelas tantas resolve dar umas mariposeadas noturnas pela "Cidade Luz".
Às bordejadas tantas, o badalar da meia-noite não transforma seus sapatos em abóbora, muito antes pelo contrário. Vive um sonho que o transporta à "época de ouro" francesa, coabitando com figuras proeminentes da literatura dos anos 20. Até Hemingway andava por lá, talvez a passeio ou só para encontrar com Gil. E como também em Paris "há tanta esquina esquisita, tanta nuança de paredes; há tanta moça bonita nas ruas que não andei"(*), Gil quase se perde no paradoxo temporal.
O filme é uma pérola, escrita e dirigida por Woody Allen, no gênero comédia científica/deprê, especialidade do Woody e romântica. Até a sensualíssima(²) Carla Bruni, ex primeira-dama francesa, faz uma pontinha. É um exercício maravilhoso; uma utopia que, se pudéssemos... Que atire a primeira garrafa quem nunca sonhou. Mas atire com cuidado. É para machucar, não para quebrar.
(*) Mario Quintana.

TRAFFIC



É um filme denso, longo e por vezes sonolento, porém, profundamente marcante. O enredo exige uma curva dramática dividida em histórias distintas, identificadas pela policromia, mas com um fim que se entrelaça. O filme é baseado na minissérie inglesa "Traffik", dos anos 80.

Trata do mundo, ou submundo do tráfico de drogas, desde a sua origem, ao democrático mercado de consumo. Democrático porque não discrimina classe, cor, credo e gênero, passando pela dura e cruel disputa por território, bem como suas ramificações nos poderes palacianos.
O filme em determinados momentos parece ser didático demais, porém está dentro do seu propósito que é fornecer um painel sobre o narcotráfico, praticamente sem juízo de valor. E aqui aparece o talento do roteirista Stephen Gaghan, que lutou um bom tempo contra a dependência química.
"Traffic" foi fartamente premiado pela crítica. O Oscar de melhor ator dessa edição foi Russell Crowe (Gladiador), mas bem que poderia ter sido Michel Douglas, que faz o papel do juiz. No entanto, acabou levando para casa uma estatueta muito melhor: Catherine Zeta-Jones, com quem é muito fácil contrair a compulsão que ele proclama ter.
O filme ainda deixa uma mensagem não sei se intrigante, visionária ou trágica, ou tudo isso: essa é uma batalha que a sociedade limpa já perdeu.
São duas horas e meia de duração, portanto, preâmbulo com Chardonnay e arremate com Sauvignon.

GHOST - DO OUTRO LADO DA VIDA



Conheci Demi Moore no filme juvenil "O primeiro ano do resto de nossas vidas", de 1985, cujo título sempre serve a outros títulos e frases de efeito, próprias em especial para o dia primeiro de janeiro de todos os anos.

Contracenou com Bob Lowe, com quem repetiu a divisão de tela no ano seguinte em "Sobre ontem à noite", outro título que me faz cócegas, sempre que começo a escrever, porque sugere uma manhã cheia de coisas para contar, depois de uma noite não dormida.
Em "O primeiro ano...", Demi era uma garotinha fofinha, bem produto dos anos 80, fumada e bebida, com um rostinho invocado e olhos lindos. Depois desses, fui revê-la em 1990, no lacrimejante "Ghost", junto com o ótimo Patrick Swayze. Então mais linda que nunca. Já em "Proposta indecente", me pareceu "bombada" e turbinada demais.
"Ghost..." para alguns tem uma temática espírita, para outros é uma ficção, já que fala de uma relação que transcende a matéria e une duas dimensões. Até pode ter uma levada meio Piegas (abraço Claudinho), mas é um filme muito bem feito, com uma atuação monstruosa de Whoopy Goldberg, que faz a interface entre o térreo e a sobreloja, e uma trilha sonora fantástica, justamente oscarizada. É, na minha visão, um filme leve, romântico e sensível. E foi a maior bilheteria de 1990.
"Unchained Melody", no filme é com Righteous Brothers, mas sou fã de "The Platters" (quem nunca resmungou "Only you" no banheiro, antes de se perfumar para uma balada?). Os caras têm um repertório de atravessar uma madrugada de sexta-feira, acompanhado por um ou dois negrões chilenos de sobrenome francês, das famílias Sauvignon ou Malbec ou Pinot... ou todos. E se nessa mesma madrugada resolverem assistir "Ghost, do outro lado da vida", vai dar borracho chorão.

UM HOMEM, UMA MULHER


 "𝙪𝙢 𝙜𝙧𝙖𝙣𝙙𝙚 𝙖𝙢𝙤𝙧 𝙣ã𝙤 𝙧𝙚𝙣𝙖𝙨𝙘𝙚. 𝙊𝙪 𝙚𝙡𝙚 𝙣ã𝙤 𝙢𝙤𝙧𝙧𝙚, 𝙤𝙪 𝙣𝙪𝙣𝙘𝙖 𝙛𝙤𝙞 𝙜𝙧𝙖𝙣𝙙𝙚".jp

"Um homem, uma mulher" é um filme muito marcante, seja pela beleza, seja pelo sentimento que ultrapassa tela, e que se manteve pulsante para sempre. Tinha tudo para ser modelo de história de amor com final feliz.
Inicialmente carregada de traumas e dúvidas, a história foca duas almas machucadas; dois viúvos, que vão se encontrando aos poucos, consolando-se e lutando contra a força de duras lembranças de perdas recentes, e que parecem barreiras intransponíveis. O filme recebeu duas outras versões, a fim de, teoricamente, corrigir os erros do destino. Uma tentativa de sequência em 1986, vinte anos depois, ainda sob a regência da paixão, e que não deu certo. A outra versão é de 2019. Essa com o fogo brando da terceira idade, que traz o reencontro dos dois, 50 anos depois. Nesta, penso que apenas para realimentar a saudade e tentar saber porque não se deixaram tomar pelo amor que sentiam.
O último filme chama-se "Os melhores anos de uma vida", que ainda não vi, mas já lacrimejo, muito pelo paradoxo temporal frustrado. Era para ter sido, mas não foi; pôde ser corrigido, mas também não foi... Uma hora dessas a gente vai descobrir por quê, aqui ou no andar de cima. Como aqueles que não vivemos e sabemos muito bem quais são. Nem os produtores se conformam com o destino paralelo dos personagens.
Desempenho irretocável dos protagonistas Anne Gauthier, vivida pela linda Anouk Aimée e Jean-Louis Duroc, protagonista homônimo do ator Trintignant. Dois atores carismáticos, talentosos, e de uma química extraordinária.
Francis Lai assina a trilha sonora aliciadora, que embalava muitos momentos especiais nos anos 70, pra quem teve a felicidade de viver por lá. Lembro que os bailes da Arquitetura da URGS terminavam lá pelas 04:00. Às 03:45, um conjunto da época tocava essa música. Era a última cartada ou a saída seria a Redenção.
Perdão, para quem não sabe sobre o que estou falando.
Filme lindo! Vale a pena rever.


LAWRENCE DA ARABIA


Falar sobre Lawrence da Arábia não é para amadores, portanto, fico cá, depois de rever o filme pela ...ésima vez, pálido de espanto. Sir Peter O'Otoole encarna um personagem histórico do reino unido, de uma forma tão soberba e impressionante, que mal dá para perceber que no restante do elenco tem Antony Quinn, Alec Guiness e Omar Shariff, entre outros das categorias de base. O filme conta a vida, um trecho dela, de Thomas Edward Lawrence, um tenente britânico na I Guerra. Além de militar, foi arqueólogo, diplomata e escritor, tendo como obra de destaque "Os sete pilares da sabedoria".

Lawrence havia sido enviado à Arábia Saudita, a fim de negociar com o príncipe Faiçal, a parceria árabe/britânica na Revolta árabe contra os turcos otomanos. É contada em flashback, a partir do seu velório, ocorrido em um acidente vulgar de motocicleta, na Inglaterra.
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O filme foi rodado na Jordânia e no Marrocos, com temperaturas beirando os 50º e tem quase 4 horas de projeção. Mas não é pelo tempo de duração que é considerado um dos maiores clássicos de todos os tempos. Tem a batuta de David Lean, que além da capacidade diretiva, tem um bom gosto enorme para trilha sonora. Composta pelo talento do maestro Maurice Jarre, o mesmo de Tema de Lara, para dizer o mínimo, a música é daquelas que se gravam em memória randômica. Passa-se o resto do dia e o seguinte, resmungando, assoviando e bocejando a música.
A morte de Lawrence, aos 46 anos, sozinho na estrada, perdendo o guidão da motocicleta, depois de todos os horrores passados na guerra é uma bizarrice do destino. Mas ele não morreu em vão. A partir desse acidente, ocorrido em 1935, motociclistas começaram a usar capacetes, por sugestão do neurologista que atendeu Lawrence.
É imperdível!

A PONTE DO RIO KWAI


Durante a II Guerra, o Japão decidiu construir uma ferrovia no meio da floresta, para ligar a Birmânia a Tailândia. Um dos trechos mais acidentados era a região do rio Kwai que exigia uma ponte. Os cálculos da época estimavam perto de dez anos, mas não havia tempo para esperar. E havia muita mão de obra, fornecida pelo sem número de prisioneiros americanos, mais o seu próprio contingente militar. Assim, em três anos deram conta do primeiro serviço, que foi a construção, e cinco minutos para o segundo serviço, que foi a explosão.

A obra macabra consumiu a vida de mais de quinze mil soldados americanos, em função das condições insalubres, doenças e tratamento escravo. Sir Alex Guiness, monumental no papel do fleumático coronel britânico Nicholson, comandou a obra. Guiness recebeu o Oscar, mas por sua postura de seriedade, liderança, ética e convicção hierárquica virou referência para o mundo pós-guerra.
"A ponte do rio Kwai", filme baseado em fatos reais, recebeu sete Óscares e colocou a Tailândia e o Sri Lanka´, onde terminou de ser rodado, no radar turístico do mundo, face as espetaculares paisagens silvestres. A obra, depois da guerra, foi reconstruída mantendo parte da construção original.
Baita filme. Inesquecível trilha sonora e atuação do Guiness. Revê-lo me fez voltar a um antigo hábito: assoviar.

O GUARDA COSTAS



É  um filme controverso. Os críticos o levaram de indicação ao Oscar ao Framboesa de ouro, que é o troféu abacaxi com grife. O fato é que foi um dos filmes que mais agradou ao gosto popular nos anos 90, e um dos que mais faturou em bilheteria.

Apesar de algumas similaridades com a vida de Whitney Houston não é biográfico, uma vez que o destino inicial da obra era uma produção sob encomenda para Diana Ross, nos anos 70.
Sobre Whitney Houston... Era uma linda mulher, que queria ter seguido a carreira de modelo na juventude, tendo desfilado e emprestado o rosto para grandes grifes. Seu enorme talento musical, entretanto foi mais forte, e ela se foi aos céus cantando. Porém, emocional e psicologicamente desestruturada, sucumbiu aos demônios químicos, tendo morrido afogada em uma banheira aos 48 anos.
"O guarda-costas" é um drama romântico policialesco, com um bela atuação de Kevin Costner. Conta a história de uma grande atriz, perseguida por um stalker, que, contra sua vontade, contrata os serviços de um profissional. O tal profissional era um ex agente da inteligência, que havia atuado na proteção do presidente dos EUA (Reagan) e que se culpava por não ter impedido que este fosse baleado. Isso fez com que desenvolvesse excessos de cuidados, beirando a paranoia.
Com ranços e contrariedades iniciais mitigados, fornecedor e cliente acabam se apaixonando e tendo belos momentos, mas o cara havia decido ser profissional acima de tudo, e a proximidade de ambos tornavam a mocinha muito vulnerável.
Quanto a trilha sonora, trata-se de um caso à parte. É de derreter o mais rançoso dos críticos. "I Will Always Love You" tem um fato curioso. Nos anos 90, um americano foi processado por seus vizinhos por ter ficado 24 horas ouvindo essa música em altíssimos decibéis.
É um filme bom para assistir em um domingo.

TAXI DRIVER



Scorsese e De Niro são uísque e barril de carvalho. Ou vinho da mesma pipa, e ambos, juntos, parecem brindar com sangue.

"Taxi driver", de 1965, é uma obra catalogada na galeria eterna dos grandes clássicos. Travis Bickle (De NIro) é mais uma "vítima sobrevivente" da Guerra do Vietnam. Um misantropo que não encontra conforto no mundo que o acolheu em seu retorno. Sua patologia social e complexos são alimentados diariamente, usando como veículos a insônia e um táxi, com o qual trabalha. Mais transita à toa de madrugada pela periferia de Nova Iorque do que trabalha.
( A fim de compor o personagem, De Niro trabalhou em um taxi por 15 horas seguidas, durante quase um mês, tendo sido reconhecido apenas uma vez.)
O que move Travis é sua luta contra o declínio moral do mundo. Entretanto, suas horas vagas são preenchidas assistindo filmes pornográficos. Não consegue estabelecer uma relação sólida com ninguém que viva fora de seu mundo e suas verdades.
Então, por acaso, percebe alguém. Uma mulher próxima do que idealizou e se interessa por ela. Trata-se de Betsy (Cybill Shepherd, a "gata"), vai ao assédio e ela é receptiva. Até convidá-la para ir ao cinema. Por óbvio que a leva a assistir um filme do seu gosto, e por mais óbvio ainda que leva um "pé".
O maníaco Travis ao final ganha status de herói, ao salvar Iris (Jodie Foster), uma prostituta adolescente de um cafetão. Jodie tinha 12 anos, à época e teve de ser representada por sua irmã mais velha, por questões legais. Mas ali foi o start de sua carreira.
“You talkin’ to me?” ("Você está falando comigo?"). Frase para a posteridade de Travis para o espelho, empunhando um colt 45.