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quarta-feira, 16 de outubro de 2024

TARAS BULBA


 

Christine Kaufmann quase se consagrou como a princesa Natalia Dubrov, em Taras Bulba., quando contracenou com o então queridinho de Hollywood Tony Curtis. Depois foi para prorrogação e pênaltis com ele, que tinha acabado com mais um dos dois casamentos mal resolvidos com Janet Leigh. Na época ela tinha 18 aninhos.

Crhis e Tony ficaram casados por 5 anos, o tempo suficiente para emplacar dois rebentos, ou duas: Allegra e Alexandra.
Christine não decolou na carreira cinematográfica, mas foi ser uma empresária muito bem sucedida no ramo de cosméticos, escreveu livros sobre beleza e foi posar nua aos 54 anos para a Playboy, época em que foi chamada de a vovó mais linda da Alemanha. Nos deixou faz pouco, em 2017, aos 72 anos.
Taras Bulba foi um épico de 1962, baseado bem de longe no romance de 1835 de Nikolai Gogol, que é um pouco mais velho do que nós, por isso não lembramos dele. Conta uma história de amor, vivida com um pano de fundo bem atual: uma guerra nas estepes, quando os polacos recorreram aos cossacos ucranianos, na época, aos tapas contra o império otomano. Dizia-se que o futuro da Europa estaria sendo decidido em 1835. Pelo visto...
O crédito do filme vai para o senhor Taidje Khan, a saber, o nome que Yul Bryner adotou, em função da sua descendência mongol. O careca está gigantesco, nem parece que tinha 1,70m.
Quem gosta de épicos está proibido de não ver, ou rever este filme. Tem imagens e trilha sonora lindíssimas. como linda era a Chris. O Tony mais ou menos.



Suzzane Pleschette tinha o olhar dúbio. Ora sorvete de pistache quando terno, ora bomba de rúcula quando enfezado. Mas abstraindo doçuras e hortaliças tinha olhos incríveis. Uma versão juvenil de Liz Taylor. Tinha uma carinha angelical, que dava os ares daquela namoradinha platônica do colégio das irmãs, contrariando o timbre de voz grave, que a mantinha longe de papeis mais ternos.

Não teve grande sucesso no cinema e jogou fora a chance de ser a mulher-gato, em 1960, "cargo" ocupado com louvor pela gatíssima Julie Newmar. A estrelinha que Suzzane ganhou na Calçada famosa fica por conta de sua presença na TV.
Dos filmes marcantes dela destaco três. "Os pássaros, do Hitchcock, "Um clarim ao longe" e "Candelabro italiano". Esses dois últimos filmes renderam prorrogação e pênaltis com o borracho Troy Donahue. Casaram, mas a união parece que se esvaiu entre "carreiras brilhantes" e garrafas de uísque . O casamento foi um porre que durou de janeiro a setembro de 1964.
"Candelabro italiano" é um aguinha com açúcar bem ao gosto dos anos 60, quando a mocinha vai para Roma buscar sarna para coçar. Mais vale pelas lindas imagens de Roma, pelo olhar matador da imprudente Prudence e, claro, por "Al di la", que eu ainda não sei exatamente o que quer dizer. Mas é bom de rever e dar uma cochilada, vez por outra, sem perder nada do enredo óbvio.
"Al di lá", no filme é cantada por Emilio Perícoli e Betty Curtis, mas interpretada por Connie Francis tu vais a Roma.


terça-feira, 15 de outubro de 2024

𝐔𝐌 𝐏𝐎𝐑𝐓𝐎 𝐒𝐄𝐆𝐔𝐑𝐎



Southport, uma cidadezinha de menos de 3000 habitantes na Carolina do Note, definitivamente é um lugar para se esconder. Foi o que a linda Katie pensou. Ela que, fugida da ´policia e do marido, com o agravante de que ele era ambos, precisava sumir do mapa.

Katie queria se esconder e não criar laços com ninguém, mas foi seduzida primeiro pela pequena Lexie, depois pela encantadora Jo (anjos existem!) e por fim pelo resto da família amputada, em especial o viúvo Alex..
Trama bem feitinha, ótimo roteiro e um texto que não por acaso, nos remete a outro açucarado competente, "𝐃𝐢á𝐫𝐢𝐨 𝐝𝐞 𝐮𝐦𝐚 𝐩𝐚𝐢𝐱ã𝐨": o autor é o mesmo (Nicholas Sparks), que pelo visto, gosta da fórmula.
Tem emoção, que parece ser a marca registrada de Sparks, momentos de espiritualidade, ação, alguns sustos e cenas finais que fariam verter os chorões dos anos 60.
O filme acaba convidando a entrar um pouco na trama, sem que importem clichês ou pieguices, afinal, clichês ou pieguices são nada mais do que definições de doçura. Assista com o espírito crítico em stand-by, uma vez que parece ter sido feito justamente para aliviar tensões. Bom para uma sexta-feira com meia garrafa de vinho.

UM LUGAR CHAMADO NOTTING HILL

 A


Antes de ser uma comédia romântica é um romance. Um romance sem traumas. Apenas com a dificuldade de um abostado não saber lidar como tamanho midiático da mocinha. Mas disso eu entendo muito bem. Também não soube lidar com a fama da Michelle. Como comédia romântica é do padrão de outra estrelada pela Julinha Roberts, Uma linda mulher, e tão boa quanto.

Conta a história de um livreiro bonitão, que recebe em sua modesta lojinha de bairro, uma bonitona famosa e atriz renomada. A coisa vai das desconfianças iniciais, uma luta titânia dela apara vencer a timidez do moço, ao final apoteótico, tudo com muita leveza e clima tropical, apesar de se passar na Inglaterra.
A gente pode gostar, desgostar do gênero ou tanto faz, mas uma coisa é certa: termina o filme e ficamos dois ou três dias resmungando a trilha sonora. Demais! Até os mariscos de Nazaré, que não têm sossego nenhum entre os guascaços do Atlântico e as rochas, sabem da minha admiração por Aznavour, mas "She", nas cordas meio roucas do Elvis Costello te levam a Notting. Sublime!
O filme tem uma levada gostosa mercê das luzes de Julia Roberts, que brilham tanto, que ao invés de ofuscar o naturalmente ofuscado Grant, empresta seu brilho e o catapulta ao Globo de Ouro junto com ela.
E um "The End" pateticamente romântico e emocionante, que fez descongelar os corações londrinos, ensolarados pela voz do Elvis, que acabou enchendo as burras dos investidores faturando milhões, e colocando a obra na galeria dos imperdíveis .





segunda-feira, 14 de outubro de 2024

COMER, REZAR E AMAR



O filme pode ser muitas coisas, até chato. Vai depender do senso crítico e dos redemoinhos internos de quem assiste. Eu gostei. E gostei porque tem um texto narrado sensível, quase poético, bons diálogos, um roteiro ajustado, embora tenha desconsiderado o personagem masculino, e forçado o clima na química do casal; tem uma visão bem humorado das culturas visitadas, uma fotografia maravilhosa e uma trilha sonora supimpa, com direito a Bossa Nova. Mas sobretudo porque é uma bela aula de filosofia. É um filme de mulher para mulher, como dizia a Marisa.
Elizabeth Gilbert uma escritora jovem, era um sucesso pessoal e profissional. Tinha uma vida invejável, mas o casamento começava a fazer água, confuso e inseguro, sentimentos que colocavam em dúvida a relação. Sem solução, divorcia-se, mas logo a seguir engata outra relação complicada, o que só aumentou seu sentimento de culpa. Então chuta o pau da barraca e parte em busca do que se escondia dentro dela, dando vazão a novos hábitos e assimilando outras culturas e crenças. Vai comer na Italia, rezar na India e... Bueno, a exótica e alcoviteira Bali que cumpra a sua função.
O filme é extrato do livro, que tem origem em um relacionamento de Elizabeth, quando ela está no último terço da viagem, e consegue expurgar os seus demônios. Conhece o brasileiro José Lauro Nunes, nascido no interior do Rio Grande do Sul, por quem se apaixona, e no filme é interpretado por Javier Bardem. Ele, que é mote do enredo, no filme tem pouco espaço e está apático. Já Julia Roberts, que encarna o álter da escritora está soberba, como sempre.

PS Tentei achar uma amiga que, ao se separar, tenha passado a comer como um Assessor Operacional de Edificações, popular servente de obras, e que não estivesse nem aí para a balança. Amanhã continuo. 

JULES & JIM - Uma mulher para dois



Há duas verdades desnudadas nesta obra:

1) Lealdade e fidelidade são palavras gêmeas, porém bivitelinas, a mercê do caráter dos envolvidos;

2) O trisal não nasceu em Tocantins.

Jules (Oskar Werner) é um judeu-alemão, com modos ortodoxos e Jim (Henri Serre), um francês tocado da bola. São amigos e confidentes, apesar das grandes diferenças comportamentais.
Passeando pelos mares gregos se deparam com uma estátua sorridente de mulher e se encantam. De volta para casa, tropeçam em Catherine (Jeanne Moreau), em quem julgam enxergar o mesmo sorriso da estátua e se apaixonam por ela.
Jeanne Moreau é um dos símbolos da nouvelle vague, o movimento francês contestatário ao glamour hollywoodiano. Era uma mulher que transpirava sensualidade, a partir de sua boca, um rasgo lascivo que oscilava entre o sorriso invertido e o deboche.
Em "Jules e Jim, uma mulher para dois", que na verdade era uma mulher para muitos, Jeanne foi ser Catherine. Tornou-se amiga da dupla e foi levando a ambos pelo seu cabresto sedutor. Quase um ménage à trois em tempo integral, até que Jules, vencido pela paixão, a pede em casamento, óbvio que com o consentimento do amigo Jim, que deveria abrir mão dos seus 33% de direitos da relação.
Viviam todos uma linda história de amor e amizade até que a guerra os separou. Jules, já casado, leva Catherine para a Alemanha, país pelo qual vai aos campos de batalha. Finda a guerra os amigos voltam a se encontrar na França. O casal tem uma vida muito complicada, em que Catherine coleciona amantes sob o olhar compassivo (ou manso) do marido. Como não consegue segurar o furor de sua Messalina, aceita dividi-la com o amigo., como nos velhos tempos Depois acaba cedendo em definitivo os "direitos federativos". Divorciam-se, e Jim e Catherine se casam.
Seguindo o roteiro, guampinha daqui, guampinha dali de ambas as partes, Jim vai viajar e encontra outra de suas mimosas, a Gilbert (mimosa mesmo, pena que só de dois filmes, a Vanna Urbino) e a coisa ficou séria e o caldo entorna de vez,.
Baita filme.

𝐃𝐄𝐒𝐓𝐈𝐍𝐎𝐒 𝐂𝐑𝐔𝐙𝐀𝐃𝐎𝐒




O filme de 1999, é baseado no romance de Warren Adler que chegou até nós com o título "Corações entrelaçados" o que, convenhamos, é a mesma coisa que Destinos cruzados. Tem como pano de fundo o desastre do rio Potomac, em 1982, que matou 74 pessoas que estavam no avião, mais quatro no solo, após colidir com a ponte.
Harrison Ford é algo do tipo Kevin Costner: tem sempre o mesmo gestual e expressão facial para qualquer situação. No entanto sabe valorizar seus personagens, em especial quando se trata de um policial. Faz com a maravilhosa Kristin Scott Thomas, na trama uma congressista em campanha, um par charmoso, porém com a química represada por traumas recentes (guampinhas cruzadas ou entrelaçadas), uma vez que a mulher do Ford viajava com o marido da Thomas, e porque a imagem da política em campanha precisa ser preservada. Dutch (Ford) investiga sobre o voo em busca do nome da esposa, vai ao encontro de Kay (Thomas) para tirar e dar satisfações, mas ela não quer falar a respeito, porque talvez tenha lá suas suspeitas. Acaba cedendo, cedendo... se entrega e tudo se vai Potomac abaixo. No entanto, ao final, a troca de olhares e afetos no aeroporto, e com um só bilhete de voo, pede um "Destinos cruzados II".
É um filme que ficou marinando por 15 anos até ser realizado e o resultado foi bom. Gostei, é impossível não gostar de ver Kristin em cena, com aquele par de olhos contraditoriamente vagos, que mal combinam com a expressão forte. É uma excelente atriz. E para coroar, tem a batuta de mestre Sydney Pollack, o que é uma garantia.
Vale suas duas horas e pico.

9 1/2 SEMANAS DE AMOR



𝙆𝙞𝙢 𝘽𝙖𝙨𝙞𝙣𝙜𝙚𝙧 é um "assemblage". Tem na sua composição genética ascendência alemã, irlandesa e sueca, e fecha com notas de índia cherokee. O maravilhoso resultado disso a gente viu nos anos 80: corpo, aroma, buquê... E talento sedutor.

E talvez essa miscigenação toda também seja responsável pela vida totalmente fora de padrões que teve, a partir de sua ascensão ao estrelato. Ultimamente anda mais serena, tratando do resultado de suas loucuras, ou seja, a desintoxicação e direcionamento da filha que teve com Baldwin, à imagem e semelhança da mãe.
Foi oscarizada como coadjuvante em "Los Angeles - cidade proibida", porém, seu filme mais marcante, seguramente foi "𝐍𝐨𝐯𝐞 𝐞 𝐌𝐞𝐢𝐚 𝐒𝐞𝐦𝐚𝐧𝐚𝐬 𝐝𝐞 𝐀𝐦𝐨𝐫", quando dividiu o protagonismo com Mickey Rourke.
Elizabeth e John não poderiam ter protagonistas mais adequados. O filme é uma bomba erótica; uma roleta russa de joguinhos sexuais, e pelo que se sabe da realidade de Mickey e Kim é uma paródia de suas próprias vidas. Esses jogos, no entanto, quando saem do controle, vitimizam seus jogadores, com respingos ácidos longe dos lençóis e fora das quatro paredes.
A trilha, por Bryan Ferry, "Slave to love" (Escravo do amor) também muito bem adequada.
Kim subiu às Três Marias, ganhou milhões, comprou uma cidade (Braselton - na Geórgia), com o objetivo de transformá=la em ponto turístico, e depois se enterrou na camada pré-sal hollywoodiana. Para sair do buraco, teve que se desfazer do sonho e se declarar falida.
𝐍𝐨𝐯𝐞 𝐞 𝐌𝐞𝐢𝐚 𝐒𝐞𝐦𝐚𝐧𝐚𝐬 𝐝𝐞 𝐀𝐦𝐨𝐫" é melhor que "Cinquenta tons de cinza" e fica bem para um sábado de outono. Com um tannat e meio quilo de gorgonzola.

GANDHI



Candice Bergen é uma Monalisa pós-moderna. Aquela ameaça de sorriso construído pelo talento de Da Vinci, e passado para o metro do tempo como enigmático, é fichinha perto desse que a loira nos proporciona. Enigmático, lindo e claro como uma manhã de abril. A boca dessa moça parece estar sempre entre parênteses. E parêntese a gente sabe, envolve um contexto de muito valor.

Candice é multimídia. Modelo, jornalista, escritora e primeira mulher a apresentar o "Saturday night live", a saber: um programa televisivo de humor que já está no ar há quase 50 anos. Nas horas vagas, espalhou pedaços de coração até por Passo Fundo-RS. Namorou de Henry Kissinger a Louis Malle, com um pequeno estágio pelos pelegos do gaúcho Tarso de Castro, um dos fundadores do Pasquim.
Uma curiosidade mórbida rondou a vida dela em 1969. Foi morar com o namorado Terry Melcher, filho da Doris Day (cujo pai biológico nunca descobri) na Cielo Drive, 1050, em Beverly Hills uma mansão enorme, palco de um dos crimes mais hediondos da história de Hollywood. Tempos depois de terem alugado a mansão para Roman Polanski, sua lindíssima Sharon Tate acabou sendo trucidada pelo louco Charles Manson e seus fanáticos.
Detalhe: a bronca do Manson era com o Melcher e este era o alvo. Logo os assassinos erraram de mulher. Era para ter sido Candice.
Apesar de ser uma cidadã de múltiplos talentos, como atriz não chegou ao topo. Foi mais TV e menos cinema. Seu grande desempenho foi em "Ghandi", no papel da empoderada fotógrafa Margaret Bourke-White, das raras criaturas ocidentais a privar da intimidade do líder indiano.
Este é um filme fascinante, baseado na biografia de Mohandas Karamchand Gandhi (Mahatma é honorífico e significa alguém "de grande alma"), um modesto advogado pacifista que, com o poder da palavra, libertou um povo. É a vitória da boa-vontade; do desejo de paz e liberdade, contra as armas e a intolerância. Mostra que o poder da base, arregimentado, supera o poder da autoridade.
Um grande filme, com desempenho inesquecível de Ben Kingsley, oscarizado por isso.

CYRANO




Hector Savinien de Cyrano de Bergerac (1619-1655) é um personagem fascinante história literária francesa. Tanto pelo que criou, como pelas lendas que o acompanham.

Escritor, visionário e poeta, mas também guerreiro e duelista. Teria duelado mais de mil vezes, muitas pelo deboche sobre sua aparência. É como se tratava o bullying antes dos cuidados necessários de hoje, alimentados por algumas frescuras e exageros. Cyrano era muito feio, com um nariz enorme e complexado por isso. Morreu cedo, mas não em duelo ou por causa disso. Morreu por consequências de um acidente, aos 36 anos.
O filme é uma aventura romântica. Trata da história escrita por Edmond Rostand, cujo tema central é a paixão desmedida de Cyrano pela prima Roxane, que o via como um irmão super protetor. E do poder das palavras na arte da sedução. Poesia, reflexões, frases espirituosas, por vezes exacerbadas, mas pontuais,, fazem parte da aula de conquista que Cyrano oferece ao seu rival, o abostado Christian, para que conquiste sua amada Roxane. Uma versão da história diz que Christian, o abostado, é o mesmo barão de Neuvillette, companheiro de batalha de Cyrano, que acaba desposando a bela Roxane.
Sua vida foi levada às telas algumas vezes, sendo incorporado por José Ferrer, Gérard Depardieu e Steve Martin, mas sempre acho que lhe falta justiça. Ferrer foi oscarizado em 1950, já Depardier só não foi em 1991, porque a concorrência com Jeremy Irons (Reverso da fortuna), De Niro (Tempo de despertar) e Costner (Dança com lobos), era pesada demais. Esse duelo foi perdido, mas continua digno de ser revisto. Quanto a versão com Steve Martin é uma paródia cômica. Trata de um Cyrano vivendo no século 20..
Ainda não assisti a nova versão que ficou pronta em 2021, com o ótimo Peter Dinklage, o baixinho de Game of Thrones. Aqui se invertem os complexos: sai o tamanho do nariz, entra o nanismo do protagonista. A crítica é boa, mas quem dá bola para ela?

𝐑𝐎𝐍𝐈𝐍

 


Estava precisando dar uma sacudida nos sensores, então fui buscar um filme de ação. Tropecei no velho e bom De NIro, que é garantia de, pelo menos, uma atuação de primeira.
"Ronin", um filme de 1998, cujo título remete a samurais desgarrados, e que de resto não muito tem a ver com o enredo, é um filme elétrico, de muita ação, tiro, porrada, bomba e aula de direção perigosa, mas com um roteiro muito bem encaixado e uma amarração justa nos finalmentes. Trata-se de alguns espiões aposentados ou em vias de, que não se conhecem e se reúnem, contratados por uma mulher para uma tarefa bem específica, que é a recuperação de uma maleta, cujo conteúdo... Bueno, pode ser que na próxima ver que assista eu descubra. A ambientação do filme sugere um revival da guerra fria, mas não é.
Além de De Niro, o elenco é bom, mas eu trocaria Natascha McElhone por Charlize Theron, Eva Green ou Demi Moore. E conta com um show de patinação da campeoníssima Katarina Witt , ao som de The Sleeping Beauty, de Tchaikovsky e The Rhapsody on a Theme of Paganini, de Rachmaninoff. Um luxo refinadíssimo no meio de tanta brutalidade. Essa é daquelas cenas que a gente "rebobina".
Uma frase marcante do filme: "se me permitem, vou desmaiar (De Niro tendo uma bala sendo extraído do corpo, sem anestesia)". Quer um filme de ação para o final de semana? Toma lá: Ronin.

E DEUS... CRIOU A MULHER



Tributo à deusa
Excerto do livro "Assim como era no princípio"

Os mais jovens talvez não saibam quem é Roger Vadim, dito assim: Rogê Vadã. Trata-se de alguém que lá, na idade da acne demonizada por suspeitas,  consumiu boa parte do meu desprezo. Fiz dele meu principal desafeto. E, numa época que sobrenomes de marca de vodca eram olhados de viés pelo mundo ocidental, fui descobrir que seu nome verdadeiro era Roger Vladimir Plemiannikov, embora cidadão francês. Taí: comedor de criancinha! Mas este fato pouco se me dava. Era apenas um agravante conveniente em função da Guerra Fria patrocinada pelo macarthismo americano, de quem a macacada terceiro-mundista, inclusive este símio, era fã.


Ocorre que entre as criancinhas circulava também Brigitte Bardot, entre outras. Que ódio! Então eu ficava olhando o cara que aparecia mais nos reclames do Sétimo Céu do que no cinema  e o que via? Um veículo desprovido de carroceria para carregar tanta areia, e a menos que fosse parente do Mário Pescoço não me ocorria o porquê do seu sucesso, justamente com as namoradas que eu escolhia a dedo nos álbuns de figurinhas de Hollywood. E para ser sincero e cru, verdade eu não escondo: escolhia a dedo e namorava com as mãos.


Brigitte Bardot era o sonho de consumo de dez, entre dez banheiros adolescentes. Não sei qual a melhor imagem que guardo dela, mas tem uma cena de  Et Dieu... Créa la  Femme, como diria o professor Cyrillo (E Deus criou a Mulher), de 1956, que é infernal. Para nós mortais de babador, a cena vem caminhando demoradamente até um lençol transparente estendido no varal, com a antevisão do nirvana. Depois, ela, que se deixa ver deitada de bruços, tomando sol assim como veio ao mundo, mostrando o quanto o Criador é criativo, tem bom gosto e é dos nossos. Aliás, a obra é Dele, certo, mas que a cena tem o dedo do anjo caído, ah, isso tem.


O filme foi rodado em Saint Tropez. BB é Juliette, dezoito aninhos, cheia de tesão, órfã, acolhida por um casal sem filhos e, claro, com um bando de pelinchos ao seu redor. Casa com o mais mixuruca deles (Jean-Louis Trintignant), mete umas guampinhas com outro (Georges Poujouly - o famoso “quem?”), e a galera aqui indo a loucura, só no chupa-ganso. O filme não é nada, não fossem as vertigens causadas pela protagonista.


Mas retornando à vaca fria, veio-me à cabeça a criatura que dirigiu o filme – o Rogê, de quem continuo com inveja - em função   de um clip onde se juntam duas das coisas mais belas que a terra me deu de presente: a música, C’est ma vie, com o Adammo se derramando em meu lugar, e ela, Brigitte Bardot. Mostra em slides toda beleza exuberante da moça até a fase atual, velha que em nada lembra o que foi, mas com uma energia fantástica no olhar, provando que continua ousada, que continua símbolo, agora na causa que abraçou: os irracionais em crise causada pelos mesmos predadores racionais que a encurralaram . Sabendo que ela defende uma causa tão nobre e desprendida me dá uma vontade enorme de latir. Cachorro não está em extinção, mas é o que está ao meu alcance.

NATALIA NIKOLAEVA ZACHARENKO



Natalie passou o metro de sua vida vivendo de tragédia em tragédia; entre depressões e ansiedades, coquetéis de álcool e barbitúricos e, ainda cedo, finou-se entre tudo isso.

Natalia Nikolaevna Zacharenko, o sobrenome de vodca não é por acaso. Era filha de ucranianos, fugidos para a a Rússia, por causa da guerra civil, de lá emigraram para Quebec, e finalmente para São Francisco, Califórnia, onde Natalie nasceu.
Teve uma passagem muito intensa e fugaz entre nós. Morreu jovem, mas deixou uma obra vasta, digna da diva que foi. Sua morte trágica e misteriosa, talvez possa ser explicada por alguma suposta biografia post mortem de Christopher Walken, amigo do atribulado casal Wagner/Wood, e que se encontrava no mar com eles no dia em que ela morreu. Vivo, ele se nega de falar a respeito. O laudo do xerife que atendeu ao caso só diz "afogamento e outros fatores indeterminados". Algumas citações biográficas estão disponíveis no livro "Natalie: A Memoir by Her Sister", escrito por sua irmã Lana Wood, também atriz .
Lana, foi Bond Girl, mas seu talento era plástico e se distribuía, em especial, do pescoço para baixo.
Revi outro dia "The Cracker Factory" (No limiar da loucura), de 1979. Não é o melhor filme dela, sequer chega a ser um bom filme, mas é quase autobiográfico. Depois revi "Os Prazeres de Penélope", uma comédia policial de 1966. Aqui dá para ver a grande versatilidade da musa. Este último eu recomendo.
Vivas às ucranianas! Salvem-nas das cavalgaduras cossacas.

FLASHDANCE

 

Maureen Marder poderia ter ficado rica com a sua história. Era uma operária na construção civil canadense que sonhava em ser bailarina, e a noite exibia seu talento inovador e exótico em casas noturnas. Maureen inovou a dança da cadeira, usando-a como coadjuvante no palco. meio que um estágio empírico do poledance, e um banho d'água. O sonho dela era institucionalizar o método.

Vendeu sua história por U$2.300 à Paramount, que produziu o romance/drama/comédia musical Flashdance, que marcou época, foi um dos filmes mais vistos dos anos 80, e inspirou artistas como Jennifer Lopes. Esta gostou da ideia e reproduziu clipes inspirado nela. Marder tentou encontrar direitos nessa nova produção, que rendeu algo em torno de U$150 milhões ao novo consórcio, mas não levou.
O filme traz hits clássicos dos anos 80, como o tema fogoso "Flashdance - What A Feeling", da Irene Cara, música que enfeita a história do romance Nonato, que um dia estará nas bancas, e uma muito especial chamada "Lady, lady, lady", do Joe Esposito, que é uma leitura chique de mesmo apelo choroso, do Odair José. .
E se tu, gatinha dos anos 80, não sabe de onde vem a moda do moletom com gola rasgada caindo nos ombros, combinado com polainas de lã, a criadora é a determinada Alex (Jennifer Beals), protagonista, que ao colocar a blusa em uma máquina de lavar e a peça ter encolhido, ela não se constrangeu: passou a tesoura.
É um filme levinho, quase adolescente, com música boa e uma bela mensagem.





CHOREI POR VOCÊ


 


Joe E. Lewis foi cantor e comediante americano, segundo Sinatra, um dos melhores artistas do seu tempo.

Anos 20, época da Lei seca e Joe trabalhava para uma boate de Chicago patrocinada por nada mais nada menos que Al Capone e dirigida por um dos seus capangas, o senhor Jack McGurn, conhecido pelo apelido fofo de "Machine Gun Jack" (Jack metralhadora) . Ao se recusar em manter o contrato, e ir cantar em boate rival, Lewis foi punido. Punição adequada para a época bárbara: teve as cordas vocais cortadas, o que seria uma espécie de morte em vida para Lewis, que vivia da voz.
Sua história rendeu um livro, e foi mais tarde comprada por Sinatra que a transformou em filme independente, protagonizado pelo próprio Frank no papel de Joe, com a batuta pesada do diretor Charles Vidor.
"The Joker is Wild" foi traduzido por aqui, não literalmente, como "Chorei por você". O filme é especial por contar a trajetória de vida e profissional do astro Joe E. Lewis, e para mostrar que titio Frank não era somente "The voice" ou "The old blue eyes". Tinha talento interpretativo.
Não é um filme fácil de ver, já que foi rodado em 1957 e só existe em preto e branco, mas é um baita filme, com roteiro muito bem encaixado, diálogos maravilhosos e de humor mórbido. A cena final ficou gravada na minha memória desde a primeira vez que assisti ao filme, no fim dos anos 60: o dialogo de Joe com sua imagem na vidraça, com uma mensagem atemporal: "you make others laugh. make yourself laugh (você faz os outros rirem. faça você mesmo rir)"
E mais: a eterna e imortalizada pelo Frank "All the way", que deve figurar na playlist de todos os que gostam de música, foi lançada concomitantemente ao filme e, óbvio, recebeu Óscar de canção original.
Mas atenção: é filme para tannat com vários cubos de gorgonzola.