Lendas "sharpeanas" 6
Estávamos em Curitiba.
O motivo era um seminário de reciclagem para a equipe comercial, com previsão
de uma semana. Delegações de todo país se fariam presentes.
Entre nós um colega em
especial, muito conhecido pela fama de conquistador. Sem barreiras, mínimos
escrúpulos, e não muito exigente. “Caiu na rede é peixe”, embora fosse um homem
de boa aparência, permanentemente bem vestido e perfumado.
Na primeira noite, recomendados
pelo gerente do hotel fomos jantar e "tirar o avião do corpo" numa casa de
espetáculos. A ordem era, entretanto, que não demorássemos; Que ninguém se
dispersasse, e que em hipótese alguma desperdiçássemos energias, pois a partir
da manhã seguinte o pau iria pegar.
Jantamos, assistimos
shows, alguns se dispuseram a dançar, mas antes da meia noite o grupo foi
reunido a fim de retornarmos ao hotel. Entretanto faltava um. Ele! Procuramos e
nada. Enfim, alguém o vira sair e assim fomos embora.
Pouco depois de
chegarmos ao hotel um colega, companheiro de quarto do galã apareceu com uma
queixa: ele estava com uma menina da boate e ao invés de mandá-la embora, insistia
em compartilhá-la. Fomos até lá em comitiva. Lá estava o casal em pelo, rindo e
convidando para a orgia. Ela ainda não havia recebido seu cachê, pois o colega pretendia
com um eventual compartilhamento baratear o custo. A garota, por sua vez havia
concordado, ante a possibilidade de aumentar seu faturamento. Simples assim.
Frustradas as tentativas, a moça foi embora levando um pouco das reservas
financeiras do colega, deixando uma pilha de preocupações que jamais imaginaria.
Mas aquele desaforo
não haveria de passar assim no mais. Não mesmo. Na manhã seguinte, sentado no
saguão do hotel alguém se deparou com uma propaganda da tal boate. Lembrou de
ter lido numa revista algo sobre o alto índice de AIDS. E então brilhou a
idéia. Mixou a matéria sobre a doença, assustadora novidade da época, com o panfleto da boate e fez algumas cópias
ajustando imperfeições. Serviço pronto, mostrou ao colega garanhão. Ele entrou
em pânico. Pânico? Além do pânico. Tinha um relacionamento sólido e a companheira
era tão bonita quanto ciumenta. Ficou de tal forma desesperado que um dia
depois saiu do apartamento examinando o “documento” no corredor, afirmando como
uma súplica “vejam, não tem mancha nenhuma!”, e se foi até o elevador examinando-se.
O tempo do seminário
passou rápido, proveitoso e divertido para alguns, trágico para o colega “saidinho”.
Quando preparava-nos
para retornar, no aeroporto, um querido colega estava conversando com o diretor
comercial que tecia os melhores elogios ao grupo gaúcho, gente nova, idéias
novas, ativos e um, em especial, extremamente concentrado. O diretor então pediu
para lembrar-lhe os nomes. Assim fez, citando cada um sem mirar o grupo, mas
quando foi referir-se ao “concentrado”, o querido colega, venenosamente
virou-se e apontou-o (este se enterrou ainda mais no sofá). O diretor olhou
balançando afirmativamente a cabeça, mas como nunca ria, fez com que o colega em
desespero acabasse demitindo-se por justa causa. O que faria? Desempregado,
doente e abandonado pela mulher?
Todos os colegas de
todas as delegações sabiam da história. Então alguém se chegou ao coordenador da
sacanagem e sentenciou: “Chega! Vou contar pra ele”. Ok. Assim fez. O gostosão,
depois de disparar rajadas de olhares assassinos ao coordenador e libertar
aquela galinha, temporariamente presa, que vivia dentro dele era só risos e
piadas. Estava aliviado, feliz, potencializado pela raiva antes contida, e já
exagerando em brincadeiras, como era seu feitio.
Diante disso, um outro
colega resolveu chamá-lo a um canto e dizer-lhe mais ou menos isto: “Cara, não
sei o que te contaram, mas mentiram pra ti a fim de te tranquilizar. Cuidado. Tu estás correndo um risco muito grande.
Quando chegares em Porto Alegre, corre para a Policlínica. E não transa com a
tua mulher! Não vais querer prejudicá-la”. Pronto. Desterro, o retorno! Depressão e muitos vômitos durante o vôo foram
o futuro imediato do caro colega.
Nos dias seguintes o
expediente dele foi coberto de expectativa e apreensão. Já não adiantava mais
dizer que fora tudo brincadeira. Ele tinha todos os sintomas. Estava certamente
contaminado. E o que dizer para a mulher? Galo reprodutor, cheio de tesão, depois
de quinze dias chegado de viagem só dando boa-noite e até amanhã?! Não era mais o mesmo.
Por fim chegou o
resultado dos exames. Estava limpo. A partir de então não restou pedra sobre
pedra. O alivio foi tão grande que não sobrou espaço para raiva contra o autor
da brincadeira (?) e seus cúmplices. A Sharp recuperou o vendedor dinâmico e
produtivo; nós recuperamos o colega brincalhão e, claro, as colegas recuperaram a pressão auricular.