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quinta-feira, 5 de junho de 2014

ADEUS, COMPLEXO DE VIRA-LATAS!


Somos um país riquíssimo, e isto já não é novidade. Veja o que pagamos de impostos, o quanto pagamos de salários oficiais, o quanto emprestamos a fundo perdido para países menos afortunados, ou parceiros, e o que ainda sobra para falcatruas oficiais, passivas e ativas. Desmandos que devem justificar o PIB raquítico.

Disseram que as jazidas de petróleo descobertas nos dariam auto-suficiência, a ponto de nos tornarmos exportadores do produto e derivados. Uma riqueza igual as esmeraldas de Minas e a Serra Pelada de tantas mortes. A maioria viu pouco, mas uma minoria viu muito e ganhou muito. Não é o caso, no momento.

As perguntas que faço são as seguintes: Em que produto fomos líderes mundiais e poderemos rapidamente voltar a ser? Qual produto nos deu um subproduto apelidado de rei, cuja soberania será para a eternidade? O que mexe com tantas paixões, no mínimo onze meses no ano, gerando recursos estratosféricos? E isto em nível mundial.

Um dia alguém nos chamou de “país do futebol”. Já fomos, mas voltar a ser é uma expectativa que pode acontecer logo ali, afinal, mesmo com uma safra de atletas sofrível, continuamos exportando e muito. Infelizmente não nos organizamos profissionalmente do túnel para fora.  Ainda somos dirigidos por aproveitadores no primeiro escalão e amadores no segundo.

Mal comparando, nosso rebanho ainda é criado no velho estilo da pecuária expansiva. Perde-se um aqui, outro acolá, mas como a produção é farta, não mudamos os métodos. A Europa, entretanto, há muito adotou o confinamento, pesquisa e melhoramento da espécie. A produção por aqui continua farta, mas a qualidade, por conta do desleixo expansionista, mixou.   

Veja, no entanto que, apesar de tudo isso, estamos ali, taco a taco, com os poderosos (putz!), e não só por sermos sede, somos novamente candidatos ao título.

Vai ter Copa, agora não adianta espernear. Deveriam tê-lo feito há oito anos, caso fossem contrários. E percam as esperanças: o dinheiro gasto, jamais seria destinado a hospitais e escolas, infelizmente. Seria desviado para outras ações, talvez menos nobres. Há um amplo histórico para provar isso.


E eu vou torcer pelo Brasil, claro. Nasci aqui, moro aqui e há muito rasguei o recibo. Larguei o complexo de vira-latas.  

sábado, 24 de maio de 2014

MULHERES QUE MATAM BARATAS


Um jovem amigo acaba de separar-se da família, há não muito constituída, e ainda não conseguiu elaborar bem a nova situação. Tateia no mundo especulando novos rumos afetivos, sujeito aos apelos e oportunidades que encontra; procura-se em outros corpos; procura o brilho antigo, ora ofuscado, mirando pupilas de por ai. Enfim, caiu de um barco que já zarpara à deriva, e busca um porto, ou uma tábua. Ou um colo. Ou um porto, uma tábua e um colo.

Disse-me ele que, caso pudesse voltar atrás, faria tudo igual, ou seja, entende que pela força dos motivos, a separação seria inevitável, mas por tudo que perdeu, caso soubesse disso, jamais teria abandonado o barco. 

Tem tentando voltar atrás, a opção dela, entretanto, é outra.
 
Meu amigo jovem não compreende como pode sua ex-esposa aceitar tão facilmente a nova situação, mesmo com um lindo fruto da relação. E até se deprime por vê-la feliz e resolvida.  Ele sabe mais por autoconfiança que por informações do mercado que é um bom amante, e é um cidadão nos limites da normalidade. Não haveria justificativa para que ela, que há não muito o amava, ele tinha certeza disto, num zás, o esquecesse.    
  
A superação da mulher como ente não é tema novo. Mas de fato, e voltado estritamente para as relações pessoais, quantos de nós percebemos isto? Quantos compreendemos e aceitamos ver a ex-dona-de-casa, na cabeça do casal? E luzindo por conta de seus talentos e força, sem um “oi” da nossa presença? Acho que os mais veteranos compreenderam antes, e não só por estarem a mais tempo na pista. Compreenderam na marra e, claro, por juízo, se adequaram. Talvez tenham esquecido de repassar o novo estágio aos filhos varões, embora estes já devessem estar acostumados a duelar com as parceiras em casa e no cotidiano. 

Duelar, sim. Antes os homens não aceitavam competir por prepotência, agora, os que não conseguem fugir da raia têm de ir para o embate. Mas atenção: este pode ser um jogo muito gostoso, e que até sirva de salvo-conduto para uma relação duradoura, desde que percebam que o oponente não é adversário, é apenas o outro lado da cama que precisa ser conquistado constantemente, e o outro lado da mesa que precisa ser olhado nos olhos. Que os homens, principalmente estes, não percam a boca, mas que a façam coadjuvar-se pelos ouvidos também. Adversários há, mas estão sempre do lado de fora e permanentemente à espreita. Um vacilo e eles atacam. Como parece ter acontecido com o meu jovem amigo.

Crescemos nós, machistas veteranos, vendo as irmãs e primas brincando de casinha e boneca, preparando-se para a nobre atividade doméstica. O estudo era quase facultativo e às vezes até proibitivo. Sem ser redundante, o normal era que cursassem a Escola Normal (o nome não deve ter sido escolhido ao acaso). Estudar era tarefa mais para homens: “tem que ser dotor”, ouvia-mos.  

Mas em meio ao murmúrio que se formava lá nos anos 60, de repente as saias subiram para além dos joelhos (quatro dedos! Pois sim...) e a coisa não parou mais de mudar. As saias só voltaram ao leito antigo por circunstancialidades de modas, ou mera opção. Isso é apenas o símbolo de uma época, mas foi assim que  passamos a dividir o protagonismo, quando muito.

As mulheres de hoje nada tem a ver com as que conhecemos até a revolução de 60. E se nós, veteranos do batalhão precursor da “redentora” não preparamos os nossos filhos, a culpa é mais nossa que deles. Mais uma na conta dos nossos erros. Era preciso repassar mais do que o orgulho de termos recriado a liberdade, e revolucionarmos costumes.

Virou o dia. Hoje a caça também caça. A gazela que toda manhã deveria correr mais que o leão ou seria morta, agora tem dentes; e o leão, que toda manhã deveria correr mais do que a gazela ou morreria de fome, hoje tem de ser mais forte, mais esperto, saber negociar. Eis a questão final: Num relacionamento há que saber negociar, perder para ganhar; dividir para multiplicar; diminuir para somar. Uma contabilidade simples. Um livro razão, não por isso racional, mas também afetivo.

Por fim, é justo e democrático que o sentimento que consagra a estima seja via de duas mãos: o desejo de ser escolhido só é menor que a possibilidade de escolher. Esta sim realiza.

A mulher moderna já não perde o chinelo subindo na cadeira, ao contrário, pega o chinelo e mata a barata.

terça-feira, 20 de maio de 2014

HIER ENCORE



Hier encore/ J'avais vingt ans/ Je caressais le temps/ Et jouais de la vie
Ontem ainda eu tinha vinte anos; eu acariciava o tempo e brincava de viver...”

Minha juventude pampeana "bombeou" à distância o surubão de Woodstock como momento ícone do novo tempo, ainda que carregada de espanto.  Mas não me rendi à maioria de seus arquitetos e suas obras, bem como a boa parte dos conceitos resultantes daquela "Exposição aquariana". No entanto, lembro-me de tudo. Gostei de ser uma das partículas minúsculas, eternas e indivisíveis; um átomo daquele momento. Foi ainda ontem, eu tinha vinte anos, brincava tanto de viver que fiz votos de ser jovem para sempre. 
Foi ainda ontem também, e eu nem tinha vinte anos, que a música francesa ultrapassou meus tímpanos e se instalou na memória randômica. Descobri e amei Nana Moskouri, a grega de timbre anômalo, e que não veio só. Trouxe Adamo, Piaff, Dalidá, Vartan, Hardy,  entre vários outros, e... Charles Aznavour, o franco/armênio de voz única.
Aznavour chegou para ser um grande parceiro  de insônias, involuntárias por arritmias cardíacas de curto prazo, ou induzidas por absoluta necessidade de que a noite não terminasse. Com ele, Sinatra, Jobim e os quatro cavaleiros de Liverpool, apocalípticos de muitos sonhos juvenis. São os que deixaram sons reverberando no cosmo, para que pousem em momentos sensíveis de afeto ou falta dele, de alegria ou falta dela. Aznavour nunca será passado. Ele é um dos verbos de Deus que se fez carne. Nele vejo tão somente uma conjugação e um tempo possíveis: o presente do indicativo de “ser”. O verbo de ligação dele com o sempre.
Ainda ontem éramos todos jovens, talvez um pouco mais românticos que os de hoje e acariciávamos o tempo. Éramos menos afeitos às sinfonias rudes. Hier encore foi o modo mágico que Aznavour escolheu para descrever (descrever?) o que foi o “ainda ontem” de todos nós. Não é apenas uma música linda, é um hino à reflexão. Uma regressão sentida; o sonho impossível de extinguir os calendários e estancar o inexorável. Ou uma confissão de culpa por tudo que ficou na estação de partida, lá onde deixamos coisas a serem feitas; momentos que quiséramos reviver a cada sexta-feira, e outros  judiados e jogados fora, marcas que serão os danos emergentes cobrados no juízo final.

Charles Aznavour é eterno! Digo obrigado à vida por ter vivido no mesmo mundo que ele e com todo tempo que tive para deixar que o som da sua voz desse menos rusticidade às coisas. E Hier encore é para mim inesquecível porque, entre outras coisas, pulsa com algo que já foi promessa e que, por impossível, contenta-se com o simples desejo e esforço de ser sempre como ainda ontem. Parte dos tantos projetos que ficaram no ar (J'ai fait tant de projets/ Qui sont restés en l'air).

Ainda ontem imobilizei meus sorrisos e congelei meus choros. Onde estão agora meus vinte anos?  (Hier encore ... J'ai figé mes sourires/Et j'ai glacé mes pleurs/ Où sont-ils à présent/A présent mes vingt ans?). Os anos se vão, e os vinte há muito já se foram. Deles me lembro, porque lembranças e sons sempre me comovem e enfim, porque  trouxe comigo os bolsos do coração cheios de afetos que não envelhecem, e assim a minha passagem por lá não tem como ser esquecida.  

Primeiro de outubro é um dia comum na galeria dos melhores. Charles apenas não fará apresentação ao vivo. E nem precisa.  

Merci, Charles. Toujours.

https://www.youtube.com/watch?v=cjEQVeGIRJc

segunda-feira, 12 de maio de 2014

CONTROLE DA MOTRICIDADE SOMÁTICA




(Os movimentos podem ser voluntários ou involuntários. O motor neurônio leva informação para os movimentos voluntários, equilibrados, associados, que mantêm o tônus muscular e a referência postural)

O córtex está na camada externa do cérebro dos vertebrados, rico em neurônios, e local dos processamentos mais sofisticados. É uma pequena peça cerebral de massa cinzenta, mas que desempenha o papel central e complexo, como atenção, consciência, linguagem, percepção e pensamento. Possui importantes funções cognitivas, essencial para a formulação de planos de ação dirigidos e metas projetadas, bem como supervisão e controle. Também é importante para a regulação das emoções e instruções simbólicas e verbais.

Todos nós sabemos onde fica a cabeça na estrutura bizarra de um time de futebol. O setor pensante. Digamos que na segunda linha do meio de campo fica o cérebro da equipe. Sendo assim podemos dizer que um dos meias-armadores deva ser o córtex, o de papel central e de funções que envolvem planejamento, comando e ações. Ali deve se situar o pensamento treinado. A memória do que foi visto, ensaiado, com amplo espaço para improvisações. Antigamente se dizia do jogador-termômetro que em determinado momento botava o pé sobre a bola, olhava para os lados como se olhasse de cima, com desdém pelo baixo clero.   

Por ali circulam os gênios que levam as tais informações para os movimentos voluntários e ordenados, e os exemplos mais antigos são fartos. Diferentemente do que dispomos hoje.

No Brasil, o melhor meia-armador que conheço é argentino. Ninguém joga mais do que D’Alessandro, do Internacional de Porto Alegre, incrivelmente esnobado pela seleção do seu país. Mas será que a Argentina produz tantos armadores assim, a ponto de abrir mão de um jogador que seria titular absoluto da seleção brasileira? Pior; produz. E eis que aqui reside um dos nossos descaminhos. Eis porque não somos mais o que éramos.

Na terra onde brotavam as mancheias talentosos meio-campistas, morremos hoje nas mãos, ou pés, de medianos, não mais que isso, ou adaptações de sistemas que compensem essa carência.  

De resto, e sem trocadilho infame, sinto pena por Ganso. Teria muitas das ferramentas necessárias para assumir a camisa 10 que escolhesse. Teria, caso tivesse outros fatores indispensáveis para compor a mecânica do córtex: personalidade, profissionalismo e liderança.

E sinto pena por nós, duzentos milhões em ação, tendo o D’Alessandro à mão, e que logo ali vai abandonar os gramados, sermos órfãos de córtex. 

Fora isso, D'Alessandro além de craque, é um cidadão que faz muito bem a Porto Alegre com sua obra social. É um  cidadão que merece toda consideração e respeito.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

CINCO DIAS DE MAIO


                                      Escrito dia 07/05/1994 – publicado no Jornal O Investidor 

Pego o senhor Igor Portela, meu filho, no colo, banhado, cheirando a Johnson e penso no distante dia em que me obrigarei a dizer: “vai filho, vai ser um Senna ou um Quintana na vida. Seja feliz cercando-se de carinho. Viva intensamente, como o primeiro, porém não tenha tanta pressa, e seja longevo como o segundo. Sobretudo não passe em vão”.

Impossível não falar a respeito. O marketing da morte grassou soberbo sobre por esta primeira semana de maio, amargurando o peito frágil do florão da América, fazendo com que, se eu jamais tivesse percebido, descobrisse o quanto as lágrimas são salgadas, e as amargas, ainda muito mais.

Toda a emoção que se derramou olhos à fora pelo Ayrton trouxe à luz que além da vida, a morte também pode ser invejada. Das definições tantas que ouvi sobre sua partida, guardo uma: “a dor é tamanha, porque perdemos um brasileiro que deu certo, conquistou o mundo e se chamava Silva”. Não sei quem disse isso.

E de quebra perdemos o nosso Mario Quintana, deixando Alegrete órfão de seu último expoente cultural. Dele sabemos pouco, o que é quase tudo.  Sabemos que amou Porto Alegre tanto quanto amou Greta Garbo; que foi sempre poeta, e porque poeta deve ser curtido em dores sempre se fez sozinho; que expôs a verdadeira cara da Academia Brasileira de Letras, onde foi recusado, mas se fosse aceito teria de dividir o chazinho da tarde com José “Marimbondos de Fogo” Sarney. E está claro que os dois não podem frequentar a mesma classe.

Dele sabemos que foi boêmio e por isso esperto. Tão esperto que, dando-se conta da enorme distância entre o céu e a terra, apressou-se em pegar carona com o Senna. Pista limpa, sem ondulações, curvas, ou retardatários, logo-logo estarão lá.

Acelera, Ayrton, que o Mario viaja quieto. Só fuma e dorme.

Mãe, aproveito a passagem do teu dia para subscrever um pedaço do coração. Mando no lugar de flores essas duas jóias, que são das melhores coisas que tínhamos por aqui. Espero que goste.

Recomende-os ao Velho.


sábado, 1 de fevereiro de 2014

AGORA, JOSÉ?


Agora, José? A festa iniciou, a luz acendeu, a noite esquentou, o povo reuniu!...

Mas agora, José? Você que tem nome, assina coluna, que teve tempo de sobra para protestar e nada fez. Se você gritasse; se você gemesse; se você tocasse quando dava tempo, vá lá. Mas agora, José? Agora já era.

Gritar contra a Copa do Mundo agora é tarde. O dinheiro já foi gasto, e o que não foi, está comprometido.  Não tem control Z. A grana dos estádios não reverterá para hospitais ou escolas. Já não está mais nas mãos do governo. E o que fazer com o que já foi gasto? E os contratos?

Leio e ouço a posição de setores da imprensa contra o evento. Justo é. Apenas tardio. E por que não dizer, oportunista. Reverberam a gritaria da massa, com o mesmo objetivo dos partidos políticos que desfraldam  suas bandeiras nas manifestações de rua. E não leio nem ouço dessas partes, alternativas do que fazer para ressarcir o dinheiro investido. 
    
A hora de gritar contra era lá, em 2007, quando o Brasil lutou pelo direito de sediar a Copa de 2014. A gritaria que me lembro da época era de festa; de vivas ao Brasil e ao magnânimo e arrojado presidente de então pela conquista histórica (... quase nunca na história deste país...”). Ou que os contrários continuassem esperneando quando das licitações; ou ainda no início das obras. Saíssem às ruas, pintassem a cara, levassem bandeiras, invadissem o Planalto.

Mas agora, José? Sem cavalo preto que fuja a galope, você marcha, José!

José, para onde?

(Perdão, Carlos Drummond de Andrade!) 

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

FELIZ ANO NOVO!




Ainda dá. Tem pouco tempo, mas posso receber uma boa notícia; ser surpreendido; podes ainda fazer algo para melhorar a tua performance... Melhor não. Deixa assim, amigo Doismiletreze. Sem surpresas de última hora.  Vá que resolvas te superar.

Este não haveria de ser um ano para festejos, mas por que está no fim e eu estou vivo; vivíssimo, e com mais saúde que o anterior, por que não comemorar? Não foi fácil manter a pressão doze por sete, a cintura abaixo de cem e IMC de vinte e poucos. Do resto não falo por que faz tempo que não vejo, mas respiro que é uma beleza. O coração bate normal, apesar  dos esquemas táticos do Grêmio. Ademais está guardado por mãos firmes e lindas.

Vou festejar sim. Vou comer e beber a tua partida, meu caro Doismiletreze, nem que prejudique os números acima e acrescente a eles mais dois furos no cinto. Esperando, claro, que não tenhas deixado o modelo a ser seguido pelo próximo.  E um recado ao Papai do Céu: Que não se repita! (Humildemente peço: “por favor”)      

E por que sei que para muitos amigos foi um ano glorioso, acabo por sepultar também o meu egoísmo. Já é uma alegria muito grande sabê-los felizes e ao alcance das minhas teclas.

2014 está no partidor aguardando o “se vieram!” Tenho esperanças, as que sempre tive, que vez por outra tentam me abandonar. Mas, amigos, a caixa de Pandora está comigo, e como vivo na terra das gralhas, ela está bem protegida.

A todos, meu abraço, meu carinho, e desejos de que a felicidade  se realimente em cada momento futuro, ou que esteja apenas começando no ano que vem.

Que possamos fazer tudo para que 2014 jamais seja esquecido!




quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

UM DEDINHO DE PROSA OU DE VIDA.


Um dedinho de prosa com meus contemporâneos. Não estamos acostumados, claro, nascemos com estrutura “out”, e falo da quase absoluta maioria dos amigos que tenho (não vou explicar o “quase” por que tenho alguns amigos que apenas não se garantem por que não querem se garantir). Mas neste momento isto é absolutamente irrelevante.

Cinqüenta anos. Quem chegou lá; quem passou por lá e ainda não fez exame de toque retal, ou está na hora ou passando dela. Não há saída, e mais hoje, menos hoje, todos nós vamos ter de nos posicionarmos a lá Napoleão e esperarmos alguns instantes pelo golpe mortal no nosso machismo imbecil. Trata-se de salvar a vida; trata-se, antes disto, de encaminharmos uma velhice mais saudável, com dores apenas do tempo, controladas e... Micções fluentes. Este é um dos prazeres humanos quase nunca relatado.  

As mulheres vivem nos dizendo: “deixem de ser frescos, nós fazemos isto com muita freqüência”. Entretanto elas estão mais acostumadas, tem plataforma “in” e por isso não servem como referência. Para nós é, sim, uma violência. Mas que diabos, violência é também arrancar um dente, circuncisão ou operação de fimose, cortar os cabelos e a barba. E nem vamos falar sobre outros procedimentos traumáticos ou mais invasivos. Ainda assim enfrentamos.

Não deveria ser tão difícil convencer o homem que o constrangimento é nada, comparativamente às dores e sofrimentos físicos e espirituais, próprios e circundantes. É, portanto, tarefa de cada um de nós, via mídia, marketing de rede, megafone ou “voz do poste” multiplicar o controle desta doença maldita. Cabe a cada um de nós, mais esclarecidos e/ou mais homens.

Copiando minha mulher: “Deixem de ser frescos!” 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

TER ESPERANÇAS, COMO O'HARA


O calendário me informa que hoje é o dia da Graça de 11.12.13, e gisa o fato de que esta data nunca mais acontecerá. Não nesta sequência. Óbvio, uma vez que não repetiremos mais 2013, e eu emendo: Graças a Deus!.

Pois vá, 2013. Vá que outros tantos já foram e a estas alturas da vida não sei quantos outros ainda poderão vir para irem-se. Logo ali você será uma lembrança vaga que não rodará no VT do melhor das minhas saudades. Vou lhe colocar as culpas dos meus atropelos. Um pouco por humano, outro pouco por covarde. Não posso assumir tudo sozinho. Paciência. Alguém que não me cobre depois deve ser sacrificado.

Vá, 2013. Vá que o outro está mordendo o freio de ansiedade, e se bobear lhe atropela, e eu estarei batendo palmas para isso, um pouco por sádico; um pouco por redimido. Bom pensar que 2014 interfira por mim. Você, 2013 haverá de perceber no espocar dos fogos e vivas ao novo rebento, um pouco das minhas vaias. Assim, sepulto contigo os dissabores sem riscos. Tempo não ressuscita, portanto, sem essa de pagar depois em nova vida que começa, dizem, três dias depois. Você não terá esta chance.

Há uma camada de fel que deve ser removida e estou fazendo agora. Vivo com tanta ansiedade e pressa, justamente por me saber além do meio da quadra para a última esquina, que escorraço as mazelas do jeito e forma que sei, e faço isso no final do ano, quando este, em espasmos, bate em retirada já sem munição. Mas não dá para facilitar.

Bom de lembrar Scarlett O"Hara no auge da depressão: “apesar de tudo, amanhã é um novo dia” (...E o vento levou). Pois então, quando uma paleta de neonato Texel estiver choramingando lágrimas de gordura nas brasas do purgatório caprichadamente produzido, pendurada lá no alto, até que descole os ossos, estarei brindando a chegado do novo. Nunca mais 2013! E nem que chova, vou sair e olhar o céu. Lá estará, por certo, a mesa posta pelo Altíssimo Confrade: uma toalha azul-marinho salpicada de diamantes, um prato branco da mais fina porcelana, com relevos discretos (ouvi dizer quando criança que se tratava de uma foto do amigo Jorge dando um pau no dragão). E nesse único prato servido para todos os comensais de fé, descansará o cordeiro por brevíssimos momentos, depois virão outros bichos inocentes do presépio que não escavem para trás, e que não matam nada além da nossa gula. E a lentilha! Ah, essa mentirosa.   


Que nos seja leve o 2014. Que revitalize as esperanças, aproxime as gentes e multiplique os afetos. Que continuemos produzindo coisas que nos tornem inesquecíveis para alguns, e que haja muitos momentos bons de serem guardados. Que a nossa usina de vontades continue juvenil, superando as contrariedades das pernas, dos braços e dos ai-ai-ais do resto da estrutura. E que, por fim, não haja vazios.  

FAZENDA TARA. CENÁRIO DE ...E O VENTO LEVOU


terça-feira, 10 de dezembro de 2013

SOBRE CHEIRO E LÁGRIMAS ARDIDAS



Vão-se as cascas da cebola num strip-tease ardido e fedorento: Dirceu, Delúbio, Genoino, como outras já tinham ido, não ao mesmo tempo e não para o mesmo lugar. A polpa está à mostra e está mais do que na hora de picá-la.

Lula, a polpa da cebola, induzido ou patrocinado, junto com seus companheiros criou um partido. Firmes na convicção de que os fins justificam os meios, não mediram conseqüências em atingirem seus objetivos. Pelo raquitismo ideológico vigente e carência de lideranças, chegaram lá; abocanharam o osso. Operacionalizaram então um monstrengo com nome e sobrenome, que haveria de ser fatal para a concorrência: o assistencialismo populista.

O passado, entretanto, um dia cobraria seu preço. Agora cabe uma pergunta: é crível que se os parceiros de jornada, de mesmos ideais e lutas, que trabalharam duro e juntos para consolidar a mais organizada rede de influências, quiçá do mundo, estejam com o rabo sujo e somente o dele esteja limpo? Tem um brasilzão por aí que acredita e dá fé. (Mas por esses, também o coelhinho da Páscoa põe ovos de chocolate meio amargo e sem glúten, e eu não deixo barato: corro já para casa porque a Angelina Jolie ficou de chegar mais cedo).

O desencanto de uma boa parte da população se dá na razão direta daquilo que Lula, o “neo-timoneiro”, pregava e prega como moral e ética. Sua retórica atravessada de discurso cuspido, semeador de novos sonhos, num resumo simples, apenas germinou idéias antigas e processos políticos recheados de doenças administrativas, já em metástase.

Pelé, o rei de majestosa inocência, disse uma vez para o espanto e indignação da elite cultural engajada que o brasileiro não sabia votar. Eu não vou dizer isso porque corro dois riscos, para os quais não me sinto preparado: tornar-me rei ou ser chamado de ignorante. Mas dá vontade, ao perceber que o ronco da barriga continua fazendo a trilha sonora que unge essa confraria bizarra, que tem como ícone um poste iluminado pelo messias das caatingas, de passado cada vez mais curioso. E um presente inquietante.  

As cascas da cebola continuam caindo, a polpa está à mostra e a gente vacila no momento de cortar. Sem ela ficará incompleto nosso molho básico, ainda que venha a servir tão-somente para a nossa tradicional pizza a moda da casa. Resta saber se não cortam por medo de chorar ou por que não querem ficar fedendo.

Mas vai feder do mesmo jeito.


sexta-feira, 29 de novembro de 2013

PTHIRUS RANSUS


Eu sou um chato. Convicto, juramentado e praticante. E a estas alturas da vida me resta tratar de amenizar impactos que eu possa produzir, driblar desconfortos causados por uma e outra palavra ou gesto, e tratar de segurar os tesouros que são os meus afetos restantes, sobreviventes ou teimosos. Acima de tudo, mais do que me aturarem, gostam de mim. Afinal, tem gosto para tudo.

Sou o tipo de chato que concomitante ao bom dia deveria pedir desculpas. Me desculpar pelo que poderei fazer no largo do dia. É sem intenção, ou quase isso. Uma espécie de legitima defesa putativa.

Chatice é um estilo de vida, contrário senso, para evitar que esta seja muito chata. Um chato social é um ser interativo, que alguns lêem ou ouvem apenas para ficar com raiva. Um chato que passa despercebido não é um bom chato, mas atenção: não ser percebido não é não receber retornos. As vezes as respostas não vêm por que os eventuais incomodados sabem que "não vai ficar por isso mesmo”.

Mas se tenho esta convicção o correto seria contar carneiros, respirar fundo, olhar ao largo, e outros tarja - pretas comportamentais naturais. Sim, esse seria o correto, entretanto esse não seria eu, e no ato contínuo morreria engasgado pela bili do sarcasmo. Seria uma violência e eu sou da paz. Chato, mas da paz.

Me conforta o fato concluso de que para ser esse chato social ativo requer certo talento e humor. Há que saber o que dizer, a quem chatear, escolher momentos sensíveis e estar preparado para réplicas, tréplicas e também exclusões de listas de amigos

Eu sou, portanto, confessadamente um chato. Há quem seja e não diz. E há uma categoria acima destes: quem não se acha. Mas toda esta confissão de culpa tem um sentido: nem todo chato é rançoso.

O ranço é algo terrível. Tem um poder inimaginável. Ele é superior as inteligências; transpõe quaisquer prioridades; é obsessivo-destrutivo. Por ele perdem-se amigos, causas, projetos... Seu programa de qualidade estabelece como missão “a contrariedade”, como valor “o que eu acho”, e como lema o “não”. Não escolhe motivos nem o tamanho deles e se manifesta, as vezes apenas pelo beiço. Sim, o beicinho. Agora imaginem o chato rançoso.

Faça o auto-exame. Apalpe-se, toque-se. A qualquer sinal de Pthirus ransus procure ajuda. Isso pega, e o portador pode ser afetado até pelo antídoto.


sábado, 23 de novembro de 2013

MALANDRO SEM SORTE



Lendas "sharpeanas" 6

Estávamos em Curitiba. O motivo era um seminário de reciclagem para a equipe comercial, com previsão de uma semana. Delegações de todo país se fariam presentes.

Entre nós um colega em especial, muito conhecido pela fama de conquistador. Sem barreiras, mínimos escrúpulos, e não muito exigente. “Caiu na rede é peixe”, embora fosse um homem de boa aparência, permanentemente bem vestido e perfumado.

Na primeira noite, recomendados pelo gerente do hotel fomos jantar e "tirar o avião do corpo" numa casa de espetáculos. A ordem era, entretanto, que não demorássemos; Que ninguém se dispersasse, e que em hipótese alguma desperdiçássemos energias, pois a partir da manhã seguinte o pau iria pegar.

Jantamos, assistimos shows, alguns se dispuseram a dançar, mas antes da meia noite o grupo foi reunido a fim de retornarmos ao hotel. Entretanto faltava um. Ele! Procuramos e nada. Enfim, alguém o vira sair e assim fomos embora.

Pouco depois de chegarmos ao hotel um colega, companheiro de quarto do galã apareceu com uma queixa: ele estava com uma menina da boate e ao invés de mandá-la embora, insistia em compartilhá-la. Fomos até lá em comitiva. Lá estava o casal em pelo, rindo e convidando para a orgia. Ela ainda não havia recebido seu cachê, pois o colega pretendia com um eventual compartilhamento baratear o custo. A garota, por sua vez havia concordado, ante a possibilidade de aumentar seu faturamento. Simples assim. Frustradas as tentativas, a moça foi embora levando um pouco das reservas financeiras do colega, deixando uma pilha de preocupações que jamais imaginaria. 

Mas aquele desaforo não haveria de passar assim no mais. Não mesmo. Na manhã seguinte, sentado no saguão do hotel alguém se deparou com uma propaganda da tal boate. Lembrou de ter lido numa revista algo sobre o alto índice de AIDS. E então brilhou a idéia. Mixou a matéria sobre a doença, assustadora novidade da época, com o  panfleto da boate e fez algumas cópias ajustando imperfeições. Serviço pronto, mostrou ao colega garanhão. Ele entrou em pânico. Pânico? Além do pânico. Tinha um relacionamento sólido e a companheira era tão bonita quanto ciumenta. Ficou de tal forma desesperado que um dia depois saiu do apartamento examinando o “documento” no corredor, afirmando como uma súplica “vejam, não tem mancha nenhuma!”, e se foi até o elevador examinando-se.

O tempo do seminário passou rápido, proveitoso e divertido para alguns, trágico para o colega “saidinho”.

Quando preparava-nos para retornar, no aeroporto, um querido colega estava conversando com o diretor comercial que tecia os melhores elogios ao grupo gaúcho, gente nova, idéias novas, ativos e um, em especial, extremamente concentrado. O diretor então pediu para lembrar-lhe os nomes. Assim fez, citando cada um sem mirar o grupo, mas quando foi referir-se ao “concentrado”, o querido colega, venenosamente virou-se e apontou-o (este se enterrou ainda mais no sofá). O diretor olhou balançando afirmativamente a cabeça, mas como nunca ria, fez com que o colega em desespero acabasse demitindo-se por justa causa. O que faria? Desempregado, doente e abandonado pela mulher?

Todos os colegas de todas as delegações sabiam da história. Então alguém se chegou ao coordenador da sacanagem e sentenciou: “Chega! Vou contar pra ele”. Ok. Assim fez. O gostosão, depois de disparar rajadas de olhares assassinos ao coordenador e libertar aquela galinha, temporariamente presa, que vivia dentro dele era só risos e piadas. Estava aliviado, feliz, potencializado pela raiva antes contida, e já exagerando em brincadeiras, como era seu feitio.

Diante disso, um outro colega resolveu chamá-lo a um canto e dizer-lhe mais ou menos isto: “Cara, não sei o que te contaram, mas mentiram pra ti a fim de te tranquilizar. Cuidado.  Tu estás correndo um risco muito grande. Quando chegares em Porto Alegre, corre para a Policlínica. E não transa com a tua mulher! Não vais querer prejudicá-la”. Pronto. Desterro, o retorno!  Depressão e muitos vômitos durante o vôo foram o futuro imediato do caro colega.

Nos dias seguintes o expediente dele foi coberto de expectativa e apreensão. Já não adiantava mais dizer que fora tudo brincadeira. Ele tinha todos os sintomas. Estava certamente contaminado. E o que dizer para a mulher? Galo reprodutor, cheio de tesão, depois de quinze dias chegado de viagem só dando boa-noite e até amanhã?!  Não era mais o mesmo.


Por fim chegou o resultado dos exames. Estava limpo. A partir de então não restou pedra sobre pedra. O alivio foi tão grande que não sobrou espaço para raiva contra o autor da brincadeira (?) e seus cúmplices. A Sharp recuperou o vendedor dinâmico e produtivo; nós recuperamos o colega brincalhão e, claro, as colegas  recuperaram a pressão auricular. 

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

LUIZ HENRIQUE SCHEFFER


Certa vez eu perguntei a um amigo: “tu és doador de órgãos?” Não me lembro da resposta por que a minha intenção era continuar falando, e assim fiz. Disse-lhe: “antes de partir me deixa tuas cordas vocais”. Mas Luiz Henrique se foi e eu vou continuar saudando os novos dias do mesmo jeito mortal e simplesinho de sempre.  

E neste momento, ao agradecer a Deus pelo milagre que se renova há tanto tempo quando dou bom dia à vida, aproveito para também agradecer ao Velho o fato de ter colocado no meu caminho, ainda que por pouquíssimo tempo um profissional; um amigo dos amigos; um cidadão que carimbava seus dias de gentilezas e boas palavras.

Luiz Henrique se foi assim, como quem tem pressa de chegar a algum lugar melhor. Mas cansado daqui não deveria estar; tinha planos, um em especial, uma gestação demorada, por vezes tensa, mas que prometia logo ali o seu nirvana. Sei que vivia cada dia com esta expectativa. Sua voz estava presa, e falar, para quem vive disso é remédio e alimento. Retroalimento.

A boca se fechou, mas voz vai continuar por ai, flutuando em várias freqüências, randômica, migrando da memória para os ouvidos e destes para nossa saudade.

Siga em paz, meu amigo. Que teu espírito volte pelo mesmo rastro de luz que o trouxe.  

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

NARCISO


Lendas "sharpeanas 5"

Tínhamos um colega que era objeto da sua própria paixão. Vivia dizendo: “Chefia, a maior frustração que eu tenho é não conseguir dormir de conchinha comigo mesmo”. Narciso era fichinha perto dele. O seu próximo era ele, a quem amava tanto ou mais do que a si mesmo. Entende? Não precisa.

Num dia qualquer foi preparada uma surpresa para ele, cuja execução carecia de uma encenação prévia.

 Era muito crédulo, principalmente nas questões que envolviam religiões afro. A partir daí, foi montada a estratégia. Primeiro foi-lhe dito que uma fulana qualquer (e ele tinha os pés de barro neste quesito) o teria colocado "na boca do sapo", e mandara fazer alguns trabalhos com o intuito de prejudicá-lo. Inicialmente ele perderia o cabelo, sua segunda paixão depois do todo, o qual lhe custava bom tempo de cuidados antes de ir à rua. E posteriormente haveria danos à saúde e, muito especialmente, à sua masculinidade.

 Mais ou menos impressionado, mais menos do que mais, se foi trabalhar, como sempre, de alma leve, não retornando à empresa no fim da tarde. Era o que o grupo de “queridos colegas” precisava para dar sequência ao plano.

Seu armário no departamento de vendas tinha na parte interna da porta uma enorme foto sua com pose que faria de Marlon Brando um amador. A foto foi retirada e copiada algumas vezes. Nas cópias feitas eram apagados os cabelos, até que chegassem a uma imagem fidedigna com o galã totalmente careca. Hoje, com os recursos disponíveis seria moleza, mas na época foi uma verdadeira engenharia. E depois foram às próximas providências.

 No dia seguinte, primeira hora da manhã  chega o colega, flutuando como sempre. O impacto foi grande. Na mesa que correspondia a sua equipe de vendas estava armado um “trabalho” contendo pipoca, cachaça, charuto, velas, no centro um papel onde estava escrito seu nome. Atônito abriu a porta do armário e... A sua foto... Estava careca! Esfregou os olhos e foi arrancar aquela imagem grotesca, quando ouviu um grito: “NÃO TOCA NISSO, PODE SER PIOR!”. Incontinente recuou, sentou-se cabisbaixo, tentando relembrar algum pedaço de vida em que pudesse ter deixado tanto rancor.  Adeus alma leve!
O colega entrou em desespero. E como a cumplicidade no departamento era grande, ninguém moveu uma palha  para consolá-lo, ao contrário, alguns ainda pisavam dizendo: “eu avisei...”

 Aos poucos, e com a pressão de algumas chefias, o mistério foi se dissipando, tendo levado alguns dias o quase “coma psicológico”. Alguém foi encarregado de lhe contar em detalhes sobre o tal trabalho, naturalmente que sem assumir culpas, nem indicar culpados.

 Como foi dito, era um sujeito de alma leve, e assim, não guardou mágoas e não quis saber de responsabilizações individuais. Preferiu culpar a todos, o que era justo. E imediatamente voltou a desfilar seu impressionante ego pelos corredores da filial.


 Dizem, porém, que se tornou mais seletivo nas suas futuras conquistas. Dizem também, que em uma oportunidade, durante um rola-rola desnudou-se um pescoço, e lá havia duas guias vermelha e preta. Visão mais do que suficiente para recompor-se e abandonar o "campo de batalha", sem mais delongas.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

CORNO PROFISSIONAL




Lendas "sharpeanas 4"

Os apelos do mercado quando se é jovem, recebe bons salários e usa boas roupas é muito atrativo. Sempre foi e sempre será.

A Sharp proporcionava razoáveis benefícios e os garotões não deixavam por menos. Nunca saiam da pista.

Numa oportunidade um colega conheceu uma mulher. Linda e loira, vivendo a vida noturna. Começaram a se relacionar, evoluiu para cliente preferencial, mas a coisa foi ampliando, ampliando, e engataram um caso de alto envolvimento. Todos os horários livres eram dedicados à gastura de energias do moço, cuja capacidade de raciocínio mudara de lugar.

Certo dia ela fez um pedido especial, seria uma grande demonstração de carinho, que naturalmente receberia generosas recompensas. Ela tinha um parente que necessitava emprego. Era vendedor, segundo  ela muito experiente e qualificado, mas estava momentaneamente sem trabalho. Eis o pedido: uma oportunidade de emprego para o parente dela.

O colega conseguiu que o  candidato fosse chamado para uma entrevista, onde se mostrou não muito convincente para a condição que postulava. Mas enfim, tinha certa experiência e acabou sendo aproveitado, muito também em função do esforço do segundo interessado. Mas não havia convicção nenhuma que daria certo, ao contrário, a aposta era outra.

Passaram algumas semanas e nada de venda; um mês e necas. Em compensação, o romance seguia torrando colchões.

Num dos tantos momentos de imersão, o sharpeano, deitado no quarto da namorada que havia saído para fazer algumas compras resolveu mexer em algumas gavetas. Não procurava nada, mas achou algo que mudaria os rumos daquela história. Uma foto de casamento. Nela os fofos protagonistas eram, nada mais, nada menos, que o vendedor da história casando com a namorada da história. Cacete!

Vestiu-se rapidamente e esperou a moça chegar. E foram às necessárias conversas. Chorosas conversas de esclarecimento. Bingo. Era verdade! Pior, o marido sabia e estava de acordo com as condições. Aliás, ele sabia da atividade dela.  

Dia seguinte na empresa o fulano foi chamado para conversar. O diálogo foi mais ou menos este, segundo os autos da história:

- Tu sabes exatamente quem eu sou, não é?
- Sim
- Então sabes com quem eu estou saindo?
- Hum, hum
- Tu não tens vergonha?
- Vergonha é ficar sem dinheiro. Mas fica frio, vamos levando...

Corno profissional! Fim de papo. Foi mandado embora por falta de vendas, mas muito pelo esforço do segundo interessado.

"E a china”? Nunca mais viu. O romance acabou no dia da revelação. Não se pode facilitar.