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sexta-feira, 11 de outubro de 2024

UMA LIÇÃO DE AMOR


 Nesse filme, Sean Penn arrasa. Quebra todas as estruturas emocionais e as vidraças dos olhos. São pai e filha (Dakota Fanning), abandonados pela mãe desde o dia do parto, cujas dificuldades causadas pela deficiência dele, ao invés de bifurcarem seus caminhos (e até se bifurcam, uma vez que há perda de guarda), mais fortalecem seus laços de afeto.
Esse filme traduz fielmente seu título, que em português ficou muito melhor do que o original "I Am Sam". É uma linda história de amor irrestrito, e de vida, que não há como não se deixar abduzir pela tela e beliscar uma coadjuvância.
Além da história linda, há duas outras belezas incomparáveis: Michele Pfeiffer, uma advogada de vida atribulada, que se afeiçoa profundamente ao cliente, e protagoniza com Sam cenas inesquecíveis. A outra beleza incomparável, são eles... Os Quatro cavaleiros do Apocalipse pop. Os guris de Liverpool ajudam a santificar o cenário. Sam é louco por eles. A propósito, o nome da filhinha dele não é Lucy por acaso. O nome completo da mimosa é 𝗟𝘂𝗰𝘆 𝗗𝗶𝗮𝗺𝗼𝗻𝗱 Dawson. 𝗟𝘂𝗰𝘆 in the Sky With 𝗗𝗶𝗮𝗺𝗼𝗻𝗱 (morou?). O que significa que Sam era excepcional no mais amplo sentido.
Michele Pfeiffer (não basta ter olhos lindos, há que saber olhar) nesse filme, sublima Atlântico e Pacífico que carrega entre os cílios, sempre prestes a derramar. O olhar de ternura dela está de derreter camadas polares e, de quebra, amansar os ursos . Falando, rindo, surtando; plena de emoções, já nem sei em que estágio fica mais “tudo”. Ela nem precisaria atuar, bastava um pôster seu na parede para que a pergunta se fizesse: how not to love? E com a trilha sonora dos Beatles, "Uma lição de amor", não fica nos devendo mais nada. É de cortar os pulsos e partir feliz para os braços do Pai Eterno, agradecido por ter nos permitido passar pelos mesmos dois séculos dessas fontes maravilhosas de luz.
Não sei quantas vezes assisti a esse filme.


VINGANÇA (REVENGE)



Na parábola, o gato angorá atravessa os trilhos do trem e perde seu belo rabo, volta para pegar, e acaba perdendo a cabeça. A moral da história é clara, CQD.

Em "Vingança" (Revenge) de 1990, revi Madeleine Stowe, com aquele olhar diabolicamente angelical, do jeitinho que costumava me torturar, lá no seu início de carreira. Ela é o rabo de saia que faz com que Kevin Costner perca a cabeça (quem não perderia?). Enfim, eis um bom motivo para morrer.
O filme conta a história de um piloto da marinha aposentado, Michael J. Cochran (Kevin) que sai viajando pelo mundo à toa. Vai ao México visitar um velho amigo, um rico e poderoso chefe mafioso Tiburon "Tibby" Mendez (Anthony Quinn), e lá conhece Miryea (Madeleine), a jovem esposa do amigo.
Amigos amigos, seduções à parte. Não há como resistir. O castigo, entretanto, e como já era esperado, é pesado: porrada bagual em ambos e a mocinha, mesmo mutilada, é drogada na marra e obrigada a se prostituir. Kevin é salvo meio que por milagre e se vai em busca da amada e a caça do ex-amigo. Às páginas tantas do almanaque de brutalidades, o mocinho consegue uma parte do que busca. Apenas uma parte, a outra, para tristeza minha e do Michael, já era.
As locações dão um tom de beleza rude, tomadas em Los Angeles e no México, e uma trilha sonora muito boa. Filmaço, apesar de algumas cenas toscas, porém adequadas ao contexto. Filme para ver e rever, e é mais um "revenge" na vida da Madeleine.

SUSIE E OS BEKER BOYS



Michelle é um poema náufrago à deriva buscando um tema; é verso abstrato em um horizonte gramatical de eventos que se consagra como ponto de não retorno, onde os adjetivos são tragados pela força das trevas, e se somem no buraco negro da insignificância. Rimas então nem pensar, uma vez que as corretas, perfeitas e mais ricas seriam as pobres, e isso ninguém ousaria. Além do quê, rimas perderam a importância.


Não leio Michelle nos versos de Neruda. Muito menos a percebo nos lascivos de Bukowski. Talvez se pudesse adaptar os ufanistas de Bilac personificando a Pátria como uma mulher loira e linda; Ou nos mais arregaçados e entregues, porém não tão machistas de Vinicius, eu pudesse encontrar seus passos, apenas para me perder neles. Quem sabe buscando só a dor de Augusto dos Anjos, porque se sabe que a beleza dói na razão direta de não podermos aprisioná-la, mas sem a morbidez de Augusto, eu pudesse ler em significados o que vejo na tela e que trago tatuado no cérebro. No hemisfério direito do cérebro. Não sei. 

Ah, sim, sobre "Susie e os Beker Boys"... "Os irmãos Frank e Jack Baker se apresentam juntos em um pequeno porém bem-sucedido número de piano, mas a falta de ambição os prejudica. Eles começam a perder shows e acabam relegados a lugares de terceira categoria. Na tentativa de dar vida nova às apresentações, os irmãos recrutam a bela Susie Diamond. O novo grupo faz sucesso, mas uma crescente atração entre Susie e Jack ameaça a estabilidade do trio".

Assisti ao filme há exatos 30 anos, em VHS, bebendo vinho em Bento Gonçalves. E recorri à fonte da internet porque só me lembro até uma hora de projeção, e tendo empacado no mesmo lugar todas as vezes que revi. Ocorre que quando Susie serpenteia preguiçosamente, miando sobre um piano, atormentado Jack, quem foi para o ponto de não retorno fui eu. Desde lá, sempre que a vejo, caio de quatro e me vou uivar na lua cheia.

O DIABO VESTE PRADA



Não há quem goste de cinema que não tenha um mínimo de encantamento com Meryl Strep. Eu tenho bem mais que um mínimo. Meryl está no topo da cadeia interpretativa de sua geração, e é por isso uma das recordistas em levar para casa as desejadas estatuetas da Academia.

A versatilidade de Meryl se expõe quando fica à vontade para ser a blindada Tatcher (A dama de ferro) ou a doce senhora Johnson (As pontes de Madison); a sofrida, frágil e adoecida Zawistowk (A escolha de Sofia) ou a pilhada Donna (Mama mia). Meryl faz parte de um seleto time de atrizes, e vai dividir o pódio com Catherine Hepburn e Ingrid Bergman, per omnia saecula saeculorum. Amém.
Isso posto, e agora retirando o babeiro encharcado, um pitaco sobre "O diabo veste Prada".
´O filme é uma comédia dramática que envolve a executiva de uma revista de moda. A dura, arrogante e intransigente Miranda Priestly (Meryl) e uma esforçada candidata a secretariar a dama de ferro versão chique, Andrea "Andy" Sachs (Anne Hathaway).
A futilidade do mercado em que se inseria não fazia a cabeça da interiorana idealista e recém formada em jornalismo Andy, mas era o que tinha, e enfim, 10 entre 10 moçoilas nova-iorquinas ambicionavam o posto, que a bem da verdade, era uma guerra diária sempre prestes a ser perdida. Mas se no início e observando todos os indícios parecesse um absurdo, Miranda acabou gostando de Andy, o que não declarava nem dormindo.
O filme é uma delícia que merece ser revisto. Além do show de Meryl, Anne e o ótimo Stanley Tucci, versão afetada, estão ótimos. A nossa Gisele Bundchen também empresta seu charme para ajudar na brilhatura da trama, mas só aceitou participar, desde que não fizesse aquilo que faz de melhor: desfilar. E fez um ótimo papel como assistente.
A autora do livro que deu origem ao filme, Lauren Weisberger, teve uma experiência de trabalho parecida a de Andrea. Ao se formar, foi trabalhar com Anna Wintour, a carrasca editora da Vogue, que lá se encontra até os dias atuais.
A trilha sonora tem um time de respeito, como Madonna, U2 e outros. Imperdível. Se não souber onde colocar as mãos, coloque em uma garrafa de Chardonnay. Harmoniza

UMA CARTA DE AMOR



Enviar cartas, no tempo em que se enviavam, era um manifesto íntimo de alto valor; e recebê-las era algo como ganhar um presente. Cartas descreviam momentos; eram autênticas, ainda que algumas verdades morressem nas entrelinhas.

Já cartas engarrafadas, apócrifas e sem destino, jogadas ao mar atravessam os tempos e, fora as que foram lançadas como mero experimento, sempre rendem uma boa história quando achadas, e em especial se achadas por pessoas inconformadas pelo simples destino da garrafa.
Theresa Osborne (Robin Wright) era uma jornalista divorciada que certo dia, passeando na praia, encontrou uma garrafa com uma carta de amor dentro. Um texto entregue, apaixonado, arrependido e respingado de dor, assinado apenas por "G". Até aqui um clichezão.
Ocorre que Theresa era uma das tais pessoas inconformadas com o simples destino da garrafa e se vai à cata do emitente. E encontra Garret Blake (Kevin Costner), um construtor naval, viúvo e solitário, que vive às turras com o pai (Paul Newman).
As barreiras de Garret, cujo arrependimento pelo marido que fora potencializava a dor da perda, eram imensuráveis. Mas Thereza, apaixonada, estava determinada a conquistar o homem. Com paciência e carinho foi ajudando-o a vencer seus demônios. E estavam prestes a viverem um grande e merecido amor, para a consagração máxima do clichê.
O mar, porém, gosta de quem o desafia. Move-se por seus próprios instintos, quando muito cutucado pelas fases da lua, e reserva aos corajosos um lugar muito especial.
"Uma carta de amor" (o título em Portugal "conversa" melhor com o roteiro: "As palavras que nunca te direi"), vale a pena assistir. Não espere um grande filme. Espere a mesma atuação morna de Kevin, em uma linda história de amor, onde prefácio e epílogo se confundem, embalada pela voz de Laura Pasini e sua "One more time".
"Deve existir algo estranhamente sagrado no sal: está em nossas lágrimas e no mar..." Khalil Gibran.

A ESCOLHA DE SOFIA


 

"A vida é feita de escolhas". Essa é uma sentença sem crédito e que se esgota em si, mesmo que no metro do tempo, pensadores e murmuradores tenham criado complementos e firulas.

Mas é difícil dimensionar a dor e a pressão de quem tem pela frente uma escolha como a de Sofia Zawistowski. E a incrível sensatez de escolher a morte de um filho, em detrimento a outro, posto que este teria mais chance de sobreviver em meio as feras? É inimaginável. Não há ombros para carregar esse peso, nem cabeça, nem futuro saudáveis. São tatuagens a fogo na alma.
Meryl Streep oscarizou-se em "A escolha de Sofia", fazendo uma polonesa, subproduto da Segunda Guerra que, presa em Auschwitz com seus dois filhos pequenos, é colocada por um salomãozinho ariano de meia pataca sob o dilema de escolher apenas um dos dois para manter vivo, e sem a certeza de contar com isso. Ela sobrevive, vai morar na América e se casa com um judeu americano esquizofrênico, transtornado com o que imaginou do holocausto. Vivem uma relação doentia, de grande entrega, submissão e autodependência, o que leva Sofia a fragilizar-se ainda mais, acolher novos afagos e experimentar mares mais serenos. É onde entra a terceira via, alter ego do criador do romance, William Styron, lançado em 1979.
É um filmaço! Mas não pode ser visto com o cenho franzido. Deixem para franzi-lo depois, quando forem julgar a escolha dela. O filme marca também a estreia do bom Kevin Kline.

DE OLHOS BEM FECHADOS



Há maneiras de se interpretar, no modo crítico sem ser técnico, o filme "De olhos bem fechados". Pode ser uma fantasia erótica; um compêndio sobre a doença que se instala nos relacionamentos de enjoada perfeição, ou como eu prefiro: uma crítica social. De como são feitas e se multifacetam algumas oligarquias sociais. E também é bom de ver Nicole Kidman, digamos que literal e totalmente despida de bens e utensílios materiais. Bem como o diabo gosta.

Bill Harford (Tom Cruise) e Alice (Nicole Kidman) formam um casal bonito, jovem. bem situado financeiramente e com uma filhota fofa. O que poderá faltar? Talvez um pitaco do anjo caído e suas ideias imundas para tisnar a brancura ingênua, e depois dar um pouco de trabalho para limpar a lousa. Mas a gente sabe que jamais voltará a ser imaculada. Alice (certamente um nome não escolhido ao acaso) tem algumas fantasias, Bill choca-se com elas, e sai à procura das suas. O que arranja é sarna para se coçar, num mundo que a sua inocência jamais imaginara. O pior é que ele vive lá!
Há um pano de fundo bizarro, um tanto apelativo, bastante viajado, mas o que esperar de Stanley Kubrick? No meu entendimento, entretanto, é o que se propõe a crítica social do filme: podridão sob tapetes dourados.
"De olhos bem fechados" é longo, de certa forma cansativo, mas muito bom filme, e termina de forma frustrante, porque nem dá tempo de responder à proposta final da Nicole. Cansei de mandar cartas sem retorno.

SUPLÍCIO DE UMA SAUDADE




Muitos de nós vivemos uma história de amor que, por circunstância da vida ou da morte foi interrompida. E isso sempre merece um relato sentido, uma música, um poema, um livro ou um filme. Ou um livro que vira filme. "Love Is a Many-Splendored Thing", dirigido por King Vidor, realizado em 1955 é a história da doutora Han Suyin, uma médica asiática, viúva, de Hong Kong.

O livro que virou filme tem dois protagonistas extremamente carismáticos e inesquecíveis: o grande William Holden, como Mark Elliott, um correspondente de guerra americano, e a poderosa e linda Jennifer Jones, no papel da doutora Han,
Essa história de amor se passa durante a guerra civil da China.. Amor entregue, da época do romântico, separação brusca e prematura, quando Elliott é chamado para cobrir a Guerra da Coreia. É quando o que era físico passa a ser virtual, por cartas, e logo a seguir apenas espiritual, marcado por lembranças comoventes.
O filme recebeu no Brasil um título que só de pronunciar dá vontade de cortar os pulsos: "Suplício de uma saudade".
A trilha sonora oscarizada era ritmada por narizes fungando e soluços incontroláveis no escurinho do cinema, em tempos que se afirmava: homem não chora! Mas as gurias adoravam nos verem de olhos vermelhos. Uma música que, sinceramente, a gente ouve para buscar adjetivos e lacrimeja por não saber encontrá-los.
Só não recomendo para domingo, que é um dia dedicado à alegria.

𝐓𝐄𝐐𝐔𝐈𝐋𝐀 𝐒𝐔𝐍𝐑𝐈𝐒𝐄"


 

Por aqui chamamos de "Conspiração tequila", esse filme que conta com elenco poderoso. Hoje seria um clichezão, mas na época, Michelle Pfeiffer ainda vivia os rescaldos da cheirada Elvira Hancock, de Scarface. Neste enredo, em posição de comando e mais maravilhosa do que nunca (ou seria como sempre?)

É uma história comum, um roteiro por vezes detalhista demais, uma fotografia linda e uma trilha sonora maravilhosa, à altura dela, a protagonista. Atacamos de Duran Duran, The Beach Boys (Don't Worry Baby é um hino) e Bob Darin (Beyond the Sea - inesquecível) entre outros muito bem votados. Digo que a trilha sonora é a segunda coisa mais importante do filme, A primeira... bem...
A temática é pesada, uma vez que trata de um traficante desejoso pela aposentadoria (Gibson), que não consegue escapar da sua natureza, um policial de carreira imaculada (Russel) e a maçã, ou melhor, a serpente e a maçã juntas em uma única embalagem no meio deles. Essa mistura de ingredientes é mais potente que a versão do coquetel de Sausalito que batiza o filme originalmente: 𝐭𝐞𝐪𝐮𝐢𝐥𝐚, 𝐬𝐮𝐜𝐨 𝐝𝐞 𝐥𝐚𝐫𝐚𝐧𝐣𝐚 𝐞 𝐱𝐚𝐫𝐨𝐩𝐞 𝐝𝐞 𝐠𝐫𝐚𝐧𝐚𝐝𝐢𝐧𝐞. A trama, porém, fica leve e boa de assistir, só não espere um super clássico. E nem precisa ser para que esse se torne um filme necessário; ou melhor indispensável. Basta ela. Para facilitar, tem até no Youtube, onde é quase sempre ruim de assistir.
Completam o cenário, os imperceptíveis Mel Gibson, Kurt Russel e Raul Julia,

𝗢 𝗣Á𝗟𝗜𝗗𝗢 𝗢𝗟𝗛𝗢 𝗔𝗭𝗨𝗟


 

O filme pode ser visto como uma homenagem ao macambúzio e sorumbático Edgar Allan Poe, o poeta das trevas, ícone gótico. Mas na levada, arrasta-se como se fosse um texto de seu quase contemporâneo Arthur Conan Doyle, o pai do Sherlock Holmes. E no rastro das homenagens, surge o inoxidável versátil Robert Duvall, 92 anos, em uma pontinha discreta. Duvall é uma lenda. fartamente premiado, mas inesquecível em Apocalypse now e Tender Mercies.

"O pálido olho azul" tem o curso do melhor estilo noir, pesado, intrigante e reflexivo, com pelo menos uma dezena de olhos azuis, páidos e suspeitos, onde sobressai Harry Melling(Poe), seja por sua caracterização, seja pela atuação. Poe é para ser, na trama, o que significou o "meu caro Watson", da obra de Doyle, entretanto, ao fim e ao cabo ele nos surpreende no papel de Sherlock.
A história gira em torno de um assassinato, que virou uma série,, com requintes de crueldade, na Academia de West Point. Era para ser desvendado com um ritual satânico, mas não é bem isso, ou não é apenas isso. O assassino se desvenda, por óbvio, no final, ou melhor, um pouco depois que a gente acha que chegou ao fim. E ainda bem no finzinho, nós acabamos não sabendo exatamente o que poderá acontecer. Entendeu? Não? Melhor. Vai assistir. Não vai concorrer ao Oscar, mas vale a pena.

ATRAÇÃO FATAL


A primeira impressão que me passa esse filme é que os atores foram escolhidos com refinamento. A doce Anne Archer (Beth Gallagher), no papel dela mesma, a excelente Glenn Close (Alex Forrest) exercitando olhos, bocas e estratégias doentias que arregalariam os olhos da Bette Davis e fariam tremer Joan Crawford, e o nosso "ninfo" preferido, aquele que se diz hiperativo sexualmente, casado com a Zeta Jones, e que teve que dar uma baita volta recentemente, para explicar a origem do seu câncer, o Michel Douglas (Dan Gallagher). Glenn e Anne jamais ficariam bem nos papeis inversos. Está na cara, no gestual e, por óbvio, no talento.

O filme conta a história de um bem sucedido advogado, casado com uma linda mulher, com uma filha fofa, mas que, ao ter um final de semana livre das obrigações maritais, vai dar um bordejo com uma periguetona classe A, a executiva e executante Alex. O final de semana rende prorrogação e pênaltis, e aí a gente sabe: pênalti há que ter talento, sangue frio, nenhuma consciência, e sorte, e contar que do outro lado as equivalências não sejam iguais.
Deu-se mal o malandro (dá vontade de perguntar: quem nunca? Mas, lógico, ninguém entenderia). Riscou fora da caixa ao lado de um barril de pólvora e as consequências foram trágicas. Porém, poderia ter sido pior, caso Adrian Lyne, o diretor, mantivesse a versão original. Alex sublimaria na vingança e o nosso Dan não estaria livre para ver a cruzada de pernas da Sharon Stone, cinco anos depois. Obsessão, que é um substantivo feminino, nunca esteve tão bem representado.
Depois desse filme, muitos outros seguiram a mesma linha, mas nada se comparou.
Vale a pena rever. Pelo sim, pelo não, bebam com moderação e retirem objetos cortantes da sala.

ANÔNIMO VENEZIANO



O filme tem a fatalidade sangrenta de um tango, ou de um samba-canção transtornado do Lupicínio Rodrigues,

Florinda Bolkan, a nossa cearense de ascendência indígena Bulcão, e ex-funcionária da Varig está exuberante nesse filme, emoldurada pela beleza úmida de Veneza. Foi o ápice de sua carreira na Itália, onde é reconhecida como parte de um grande time de estrelas. Por aqui, talvez ganhe apenas nome de rua em Uruburetama, quando nos deixar.
O filme é uma linda história de amor fatal, hoje meio clichê, onde um músico, o Enrico (Tony Musante) que não consegue esquecer sua ex-mulher Valéria (Florinda) e sentindo a morte chegar em função de uma doença incurável, consegue um reencontro, a fim de reviverem seus bons momentos. Mas ela não sabe que participa de uma despedida.
E a música... A música, para nós que já não cozinhamos na primeira fervura, nos transporta àqueles salões iluminados pobremente pela luz negra e nos faz dançar de rosto colado sobre dois ou três tacos de parquê.
““È meglio che tu vada, amore mio. A casa ti stanno aspettando” ( É melhor você ir, meu amor. Em casa, eles estão esperando por você)"
É nesse momento que tu começas a chorar junto com Valéria.
É um filme inesquecível que vale muito a pena rever.


quinta-feira, 10 de outubro de 2024

O FEITIÇO DE ÁQUILA

 


Eu tenho um motivo especial para assistir vez por outra "O feitiço de Áquila": limpar os olhos da fealdade do mundo. E assim faço com qualquer filme de Michelle Pfeiffer, nos quais exijo Oscar de melhor fotografia, por motivos óbvios.

"O feitiço..." é um romance alegórico, levinho e bom de assistir. Um tripé meio piegas de drama/fantasia/ação. A trama se desenvolve quando o bispo de Áquila, com poderes semelhantes aos do STF, se apaixona por Isabeau d'Anjou (ele e todos os homens da Europa medieval). Como a bela já tinha o coraçãozinho ocupado pelo corajoso capitão Navarre, o bispo, possuído de ódio e ciúmes, lança uma maldição ao casal., de modo que eles jamais pudessem interagir, mesmo frequentando os mesmos lugares. Ela viveria de dia sob as penas de um falcão, e ele à noite, vestiria a pele de um lobo. E assim seria per omnia secula seculorum. Mas maldição é como uma gincana macabra, de início parece impossível vencer, porém, passando por algumas provas... Nem que seja preciso encharcar os panos com sangue ou até mesmo inventar um eclipse bizarro.
O filme é bom, mas nessas obras de décadas passadas, é preciso entender e dar o devido desconto às cenas que envolvem ação. As ferramentas de edição não se comparam as de hoje, e algumas cenas são nitidamente artesanais.
Quanto ao tal bispo... Há muito desconfio que ele não morreu, e pior: me conhece. Não deve ser por acaso que quando vejo Michelle, me transformo em um pequenino grão de areia, enquanto que ela fica lá em cima brincando de Dalva. Deve ser praga do bobalhão que até compôs uma marchinha para debochar.

AS ESPIÃS DE CHURCHLL




Quem estiver por aí, meio al pedo e goste de história, recomendo um filme: 𝗔𝘀 𝗲𝘀𝗽𝗶ã𝘀 𝗱𝗲 𝗖𝗵𝘂𝗿𝗰𝗵𝗶𝗹𝗹, O título brasileiro nada tem a ver com o original, que é A Call to Spy (Uma chamada para espionar). Pode isso? E eu me queixando do corretor do celular! Até porque, o gordinho do V da vitória transformado em paz e amor, não aparece nunca, e só recebe uma ou duas referências bem a lo largo.

E não convém conhecer profundamente a história, ou não ter grandes expectativas sobre revelações guardadas, porque ela, a história, também não é tão explorada no filme. Traz à luz, no entanto, a vida de três mulheres grandiosas e justamente reconhecidas em sua luta contra o nazismo: 𝐕𝐄𝐑𝐀 𝐀𝐓𝐊𝐈𝐍𝐒, 𝐕𝐈𝐑𝐆𝐈𝐍𝐈𝐀 𝐇𝐀𝐋𝐋 e a indo-britânica 𝐍𝐎𝐎𝐑 𝐈𝐍𝐀𝐘𝐀𝐓 𝐊𝐇𝐀𝐍.
A beleza do filme, além da linda Stana Katic, que dá luz à poderosa Vera Atkins está no objetivo, que me parece ser a valorização do trabalho dessas heroínas contra os malvadinhos da suástica. Isso se preenche razoavelmente, apesar de que na trama, a meu ver, faltou explorar melhor suas ações, em especial as de front. Também não é um filme de guerra. É uma trama de suspense, baseada em fatos reais, vividos naquele período negro da Segunda Guerra, dos mais trágicos da nossa saga humana.
Para quem cresceu lendo muito sobre Mata Hari, sobre a Agente 27 e muito em especial (mas bota especial nisso) as gurias da família Montfort, a saber, Giselle e sua filhota Brigite, o filme da Sarah Megan Thomas, que faz o papel de Virginia, foi um bom tira-gosto.

OS INTOCÁVEIS



- Estão dizendo que vão derrubar a lei seca. O que o senhor vai fazer então?

- Talvez tomar um drink...
E foi assim mesmo que acabou a vida do grande Eliot Ness, aos 54 anos: bêbado e pobre. O homem que conseguiu a façanha improvável de prender Al Capone. Bêbado logo ele, carrasco da máfia durante a Lei Seca americana.
O rótulo de celebridade mexeu com a cabeça do antes "Intocável" agente Ness, e ele perdeu um pouco os freios depois da consagração.
A saga contada sobre sua vida começou com um livro escrito por Oscar Fraley, em 1957, cujo texto aprovado por Eliot e lançado um mês após sua morte, resgatou o lado herói do agente e deu inicio às demais produções (série e filme). Em matéria de produção, no entanto, o herói é muito menos glamoroso que o bandido. O velho Alphonse Gabriel Capone tinha o charme especial de um dos maiores anticristos da história. E no filme com o brilho de Robert De Niro, exibindo todo o cinismo, a prepotência e a crueldade que dizem que o "capo" tinha, além do seu guarda-roupa chique em detalhes.
"Os intocáveis", com a batuta premiada de Brian de Palma, roteiro muito bem encaixado e a trilha sonora de Morricone à altura, é um filme que eu poderia narrar, mesmo sem tê-lo revisto, de tão marcante que é. E um show de interpretação de Sean Connery em sua meia hora de participação, no filme que tem quase duas horas. Meia hora que valeu um Oscar.
Albert H. Wolff, era o "intocável" ainda vivo à época do filme, e auxiliou Kevin Costner a compor a imagem de Ness. Embora registros indiquem que o agente não andava armado.